O Senhor muitas vezes quer falar conosco, mas nos recusamos a ouvir-lhe. Por quê? – Estamos com pressa!
A bíblia diz que Deus é longânimo; não se apressa; não age como nós agimos; espera. Sempre trabalha com propósito; em nenhum momento temos a descrição bíblica ou histórica de que Deus tenha feito algo e tenha errado o alvo ou, tenha se enganado no seu plano – com Deus jamais acontece isso!
A vida de Jacó nos oferece algumas lições pelas quais podemos aprender preciosidades espirituais para nossa caminhada com Deus nestes dias atuais. Às vezes nós queremos ir por onde vai a maioria, porém o Senhor deseja que sigamos o Seu plano perfeito para nós. Da maioria o Senhor não se agradou e houve morte no deserto (I Co. 10:5).
Jacó foi um homem apressado desde o ventre (podemos dizer), no nascimento saiu agarrado ao calcanhar de seu irmão Esaú (Gn. 25:26). Teve seu bacharelado em pressa quando astutamente ‘comprou’ o direito de primogenitura de Esaú. Aproveitando-se do descuido de seu irmão, apressadamente o incentivou a negociar a primogenitura e apressadamente fez o guisado, e enquanto Esaú comia gostoso, Jacó saiu rindo... apressadamente. Claro que Esaú errou em desprezar a primogenitura (Hb. 12:16); foi uma atitude precipitada, impensada e que não teve volta, mesmo buscando com lágrimas – devemos pensar bem sobre as bênçãos do Senhor (Gn. 27:36; cf. Hb. 12:17). Porém o que Jacó realmente queria era apressar a bênção sobre a sua vida. Mas não pára por aí. Jacó ainda fez doutorado em pressa e isso se deu quando ajudado pela sua mãe Rebeca ele engana seu pai Isaque, e rouba a bênção patriarcal sobre Esaú. A coisa foi tão ‘bem’ feita que ele teve que ir para longe, em outras paragens, em outras ‘empresas’ colocar em prática seus ‘estudos formativos’.
A pressa é um inimigo astuto. Todo homem tem que aprender a lidar com esta atitude. Todos têm pressa. Temos pressa para subir rapidamente na vida; pressa para o cumprimento das promessas de Deus sobre nós dentro do nosso tempo – e esse tempo sempre está fora do tempo de Deus, pois achamos que Deus está demorando, está atrasado –, queremos ver a ‘justiça’ triunfando rapidamente quando diz a nosso respeito e será para ganho nosso, enfim... a pressa é algo que sempre queremos ter ao nosso favor quando conta pontos positivos para nós. Uma das definições de pressa é precipitação, irreflexão. Seja ao nosso favor ou não a pressa sempre causa algum prejuízo.
A pressa de Jacó em receber as bênçãos o fez caminhar na contramão. Ele caminhou por muito tempo fugindo de Deus. Um encontro com Deus era o necessário para mudar as atitudes de Jacó. Como Deus ‘não se mete’ na vida de ninguém, deixou Jacó caminhar livremente. Jacó fez e fez acontecer. Porém chegou um dia que ele teve que parar para ouvir o que Deus tinha a dizer. Foi aí que as coisas começaram a tomar a direção certa.
1. A pressa prende o homem à fuga
A primeira coisa que aconteceu com Jacó após estas investidas apressadamente foi que ele teve que fugir da sua casa e ir para Padã-Arã, casa de Betuel, pai de sua mãe e ali refugiar-se, pois a ira de seu irmão era de morte – Esaú só estava esperando a morte de Isaque (Gn. 27:42-43). Aqui ele torna-se um homem apressado preso à fuga, pois se não fugisse a morte era certa.
Atitudes egocêntricas e impensadas nos levam a tomar decisões apressadas. Colocam-nos
2. A pressa não deixa ouvir a voz de deus
Jacó saiu apressado e com o coração palpitante. Cai o crepúsculo, o sol se põe, chega à noite. Já não tem o lugar protegido para dormir. Faz de uma pedra o seu travesseiro e do céu o seu teto. Desejou que a noite passasse apressadamente, pois seria longa demais e seu coração teme pelo pior. As paragens são desconhecidas e enquanto o seu coração chora saudoso pelo lar, sua consciência martela suas irrefletidas atitudes. Mas não tem outro jeito – a pressa lhe trouxe a primeira noite longe do lar. É um lugar terrível e que provoca arrepios e temor.
O cansaço lhe faz dormir. O sonho vem. É lindo! Sonha com anjos. Deus fala com ele. Promete-lhe segurança; renova a promessa abraâmica. É um a noite memorável. Digna de um tributo a Deus em forma de coluna. Sua gratidão é muito grande. Porém ele não conseguiu ouvir a voz de Deus no mais íntimo do seu ser, pois estava afogado por atitudes apressadas. O que ele ouviu, já sabia. Ele queria que se cumprisse a promessa de Deus “estender-te-ás ao ocidente, ao oriente, ao norte e ao sul”. Talvez dissesse: - Deus... vamos fazer isso acontecer. Jacó ouviu com os ouvidos a mesma promessa feita a Abraão, porém não conseguiu ouvir com os ouvidos da fé, com a alma e o espírito, como a ouviu Abraão.
Jacó votou. Mas foi um voto negociado. Ele disse “Se Deus for comigo”. Essa expressão denota falta de fé na Palavra. Ele acabara de ouvir (do próprio Senhor) a mesma promessa que foi feita a Abraão, porém seus ouvidos espirituais estavam moucos. Veja bem que ele diz que o Senhor seria o seu Deus diante de tais e tais circunstâncias: se... me guardar, me der pão, me der vestes, me der paz... o Senhor será o meu Deus... e certamente te darei o dízimo. O apressado põe suas necessidades em primeiro lugar. Ele visa primeiro o seu lucro, primeiro o que é visível, o que está em frente ao olho – ‘a olho nu’. Dificilmente se toma uma atitude de fé diante da pressa. Tenho pressa da bênção, mas não consigo esperar no sábio e silencioso trabalhar de Deus!
3. A pressa não deixa ter paz
Jacó levanta-se e segue a viagem. Está nas terras dos filhos do oriente. Vê os pastores com fortes e bonitos rebanhos. Descobre que por ali é a terra de destino. Cobiça os rebanhos e quando os seus olhos vêem Raquel a ama no coração e, certamente no seu íntimo já pensa num meio de negociar para tê-la como esposa. Ela realmente é linda. Seus olhos o encantam. Seu jeito gentil lhe cativa por demais. Sua voz é suave e denota respeito e educação. A cansada viagem não é sentida quando se depara com a linda Raquel de Labão. Certamente pensou ter encontrado o descanso que sua alma angustiada tanto desejou. Na casa da moça é bem recebido. Há abraços, beijos e lágrimas, entre júbilos e saudades. Tudo se renova. Porém ele ainda continuava apressado.
Negocia com Labão e trabalha apressadamente sete anos, que, por fim, parecem sete dias, por Raquel. Na sua pressa ele enganou, ele trapaceou e, agora a lei da semeadura chegou e ele é enganado, é lhe dado Lia, a primogênita. Indigna-se. Não desiste e trabalha mais sete anos por Raquel e daí a toma como esposa. Ama-a demais. Porém sua vida familiar é de disputas intermináveis entre Lia e Raquel. Enquanto aquela lhe dava filhos, essa amargava a esterilidade. São tempos penosos. Trabalho forçado para enriquecer Labão e tristezas quando chega ao lar. A pressa na vida e pela vida lhe roubou a tranqüilidade. E de tanto sofrer lhe conduziu por caminhos de angústias e tristezas. A pressa lhe enriqueceu, mas não o deixou ter paz.
Certamente ele chegou à triste conclusão: quando caminhamos apressados, fizemos coisas apressadas. Podemos ganhar muito, mas somos atribulados. A decisão final na casa do sogro também é tomada às pressas, e assim ele foge, indo em direção de Gileade – região pedregosa.
4. A pressa, Deus pode detê-la
O ser humano sempre gostou de decisões próprias. Tem gosto por tomar decisões em que leve vantagem. Caminha por muito tempo sob seu próprio ego. Enfrenta difíceis momentos e sai deles como alguém capaz de administrar todas as coisas na sua vida. Acha-se auto-suficiente. Preparado para enfrentar até o próprio Deus.
Assim caminhou Jacó. Mas Deus tem seus meios de trabalhar. E aonde Deus conseguiu falar com Jacó de modo que ele ouvisse foi no vale; ali ele se prostrou; estava entre o ribeiro e o inimigo, no caso Esaú, com seu forte exército (Gn. 32:6). O encontro era inevitável, e a consciência palpitava as duras atitudes apressadas de anos atrás. Em sua mente passa o filme de sua vida: atitudes apressadas – pressa, engano, fuga... pressa, engano, fuga... e o ciclo se repetia. Atitudes apressadas levam o homem a caminhar fora do plano divino. Nada é mais deprimente do que o encontro do homem consigo mesmo. Para o cristão esse encontro se dá quando ele se vê na menina dos olhos de Deus – ali ele enxerga a sua miséria, seu estado lastimável – e vê, mas vê mesmo que ele nada é, e nesse momento o que mais deseja é a morte.
Quando Jacó sabe do inevitável re-encontro com Esaú ele estremece. Bate o desespero. Porém é interessante notar que aqui Jacó na age com pressa. Aqui ele troca a pressa pela cautela, vejo isso como o início da humilhação, um grito de socorro, ainda que com medo e pavor, mas brotava da alma angustiada, inerme, pusilânime, um grito de dependência (Gn. 32:9-11). É momento de lembrar-se das promessas de Deus (Gn. 32:12). É momento de ordenar as coisas e enviar presentes para aplacar a ira do irmão Esaú (Gn. 32:13-21). Mas o máxime momento ainda estava por vir: o momento do encontro com Deus, onde o caráter seria descoberto e após a confissão, Deus mudaria o rumo das coisas e aplainaria os caminhos pedregosos de uma vida amargurada por decisões apressadas e enganosas.
Jaboque. Nome sugestivo para um encontro. Região de limites, aqui era o limite das terras dos filhos de Amom e da tribo de Gade (Dt. 3:16). Para Jacó era o limite de sua vida velha e o encontro com a nova vida sob a bênção completa de Deus. Aqui acontece, e marca toda a história de Israel, o encontro mais dramático do importante patriarca da nação de Israel. É nessa noite memorável que Deus ‘consegue’ ter a atenção que sempre quis de Jacó. Foi uma luta travada a noite toda. A bíblia não descreve a teor da batalha, não dá detalhes do diálogo travado entre o homem e Jacó (Gn. 32:24). Talvez Jacó não quisesse reconhecer sua fragilidade, sua vida de engano, de trapaças, de fugitivo, de apressado, não sabemos como se deu a luta. Porém temos a mais profunda pergunta: “qual é o teu nome?” Essa pergunta tocou o profundo da alma do homem Jacó, aqui desmoronou sua coragem e descortinou-se seu coração amargurado.
O ápice é a confissão: “Jacó!”. Agora Jacó consegue ver Peniel que quer dizer A face de Deus. Essa lição é por demais importante: ninguém consegue ver a face de Deus sem primeiro confessar quem é. Quando confessamos quem somos, é o grande momento, aí Deus trabalha no caráter. Só depois disso temos a condição de nos encontramos com o inimigo, humilhar-nos e correr para o encontro do perdão (Gn. 33:3-4), é o momento de deitarmos fora ídolos, removermos a poeira do deserto, é momento de roupas novas. Depois disso é momento de altares edificados (Gn. 35:1,7), de obediência irrestrita: “Então disse Deus a Jacó: levanta-te, sobe a Betel [...] disse Jacó: levantemo-nos e subamos [...] (Gn. 35:1-3), é momento de concerto (Gn. 35:2), e promessas renovadas (Gn. 35:9-12), é o lugar chamado Betel: lugar onde Deus fala!
Adriano Wink Fernandes
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