quarta-feira, 27 de maio de 2009

COMO MUDOU O CULTO


Quando eu era mais moço lembro-me que tínhamos o culto de doutrina, ou culto de ensino. Era na terça-feira, e a igreja se reunia unicamente para um momento de oração e outro momento para estudo ministrado pelo pastor. Para dar início ao culto era cantado unicamente um hino da Harpa Cristã. Foi ali e na Escola Dominical que fui me alicerçando na Rocha.
Naquele tempo não havia em qualquer culto, literalmente não havia, lugar para animar o povo; não havia reteté; pregador 'canela de fogo' não exisita; não rolávamos no chão 'cheios do espírito'; não tínhamos músicas para animar o povo ou tornar o convite mais emocionante ou espiritual; não precisávamos 'cair no espírito' para provar que o Espírito estava presente; ninguém soprava no microfone ou movia o paletó sobre ou em direção dos presentes; não se derramava óleo sobre o suposto local doente; não se 'entrevistava' o demônio para confirmar que era ele mesmo, e o que ele queria fazer com a pessoa; etc...
O pregador era um Profeta e verdadeiramente pregava a Palavra e o povo respondia voluntariamente, o Espírito se manifestava e havia liberdade porque Ele estava presente (2 Co. 3:17). Não havia intermináveis cânticos e as incessantes ordens do ‘ministro do louvor’ (pois não havia ministro de louvor) para que a igreja liberasse uma palavra, profetizasse sobre o irmão ao lado. Havia equilíbrio em todos os acontecimentos do culto, tudo dentro direção do Espírito Santo.
Era comum a pregação ou o louvor ser educadamente interrompido por um irmão ou irmã que era ‘tomado (a)’ pelo Espírito Santo. Levantava-se sem gritos e alardes e falava em voz suave e clara o que o Espírito ordenava – toda igreja silenciava e ouvia reverentemente. Após, ‘caia’ como que uma suave brisa sobre a igreja e havia renovo, quebrantamento, e genuínas manifestações do Espírito Santo. E o pregador continuava sua pregação. Era um culto genuinamente espiritual.
Lembro-me que tempos mais tarde, numa das tardes da semana, iniciou-se o culto da vitória. Em poucos dias estavam ungindo pessoas possessas de demônios; ungindo ou orando por carteira de trabalho; orando por peças de roupas; orando por fotos; fazendo novenas ou a campanha das sete semanas; correntes. Assim, tantas outras inovações que até então desconhecíamos totalmente, entraram pela porta da frente da igreja e sem escrúpulo algum foi recebida nos altares - eram 'mistérios de Deus'. Não podiam ser julgados - Deuteronômio 29:29 era o versículo chave para muitos não oporem-se a tais modismos.
Até então éramos pentecostais bíblicos, centrados na Palavra, não íamos além do que estava escrito (1 Co. 4:6). Mas parece que estávamos entrando no caminho dos crentes da Galácia, e sendo inquietados (Gl. 1:6,7) – infelizmente não tínhamos um Paulo para nos acordar, e outro evangelho foi bem vindo. Inquietados pelo pseudopentecostalismo que veio com uma onda de inovações: novas revelações; modismos; sopro do espírito; unção do paletó; cair no espírito; teologia da prosperidade e tantas experiências (ditas espirituais) sendo colocadas acima da Palavra. Éramos bereanos, mas começávamos abandonar deliberadamente e sem escrúpulo algum a Palavra - "a Escritura divinamente inspirada e proveitosa" (2 Tm. 3:16,17); paramos de conferir se as coisas eram realmente assim, e não comparávamos mais as coisas espirituais com as espirituais (At. 17:11; 1 Co. 2:13).
A igreja Pentecostal, no Brasil, vive hoje um momento crítico basicamente por se alienar do estudo da Palavra. Alguns teólogos definem a igreja brasileira como “teologicamente fraca”. Há mais interesse em milagres, movimentos, louvorzão, 'adoração', bênçãos e mais bênçãos, mas pouco há na igreja estudos bíblicos (no sentido lato da palavra) – exceto na Escola Dominical. Não falo de momentos especiais para estudo. Refiro-me ao dia a dia da igreja, aos cultos normais da semana; deveriam ser mais regados a mensagens cristocêntricas, expositivas, bibliocêntricas, para que o povo fosse edificado e o objetivo de Cristo para a Igreja fosse plenamente alcançado (Ef. 4:11-15).
Tenho escutado muita mensagem que fico pensando porque o pregador ‘pregou’. Pois não há uma definição na ‘pregação’, não se entende o que o pregador quer dizer, vai sendo preenchida com exemplos daqui e dali e nada que confirme a palavra pregada com a Palavra escrita. Muitas vezes parece que o momento da pregação tem que ser preenchido com qualquer coisa. O povo, no momento do louvor, foi “elevado ao Santo dos Santos” que alguns dizem: por mim, poderíamos dizer o Amém deste culto, pois já estou satisfeito. Amém igreja?! (imagine o pregador levantar-se para pregar e dizer isso?! Força de expressão? Vamos parar de forçar tanto assim!).
O povo recebe ordem a todo o momento para fazer isso ou aquilo, dizer isso ou aquilo; isso somado à confissão do ‘humilde’ pregador: não sei porque estou falando isso, “mas Deus sabe”, Ele me manda falar, e eu falo; algo tem que ser feito para mexer com o povo, aí entra todas estas inovações, modismos, e tantas coisas que temos visto na igreja: dê glória; dê aleluia; cutuque o irmão ao seu lado; batam fortes palmas para Jesus... mais forte; tem fogo aí? Hoje Deus vai falar; tem um anjo de fogo passeando aqui; etc.
Tempos atrás fui ministrar um estudo sobre o Fruto do Espírito. Na segunda noite havia um casal cantando, aqueles bem ‘despertados, cheios de unção’. Como não tiveram oportunidade para apresentar-se e o estudo não fazia de jeito nenhum o tipo enfogueirado deles, certa altura ele conversou com a sua esposa: ele não vai parar? Já não aguentavam mais, o culto não estava de fogo, o povo não estava se sacudindo para todo o lado, não havia reteté.
Se os pastores e pregadores se dessem ao nobre trabalho de preparar estudos centralizados na Palavra, os crentes seriam mais maduros, edificados, fortalecidos no homem interior (Ef. 3:16). Seriam cheios do Espírito Santo, mas não aceitariam pregadores da nova unção, do diz-isso-ou-aquilo, do profetize agora, do positivismo, não precisariam cultos da vitória, da restituição, do milagre, pois todos saberiam que não é numa campanha de semanas ou dias que a vitória será alcançada. Desejariam viver e andar no Espírito (Gl. 5:16,25).
Em uma Escola Dominical levantou-se uma discussão sobre estes modismos no culto e sobre o culto da vitória, da restituição, da bênção, do milagre. É quase que unânime a posição dos irmãos leigos que algo está errado. Por mais que o professor não tenha se pronunciado o desejado na questão (digo desejado no sentido de esclarecer as coisas dentro da Palavra (já que era uma Escola Dominical)), pude sentir a interrogação que paira sobre a cabeça da maioria dos irmãos com relação a estes modismos: algo está errado e precisa ser mudado!
Lembremos que Israel foi repreendido pelo Senhor porque estava sendo destruído por falta de conhecimento: “O meu povo é destruído porque lhe falta o conhecimento. Porque tu rejeitaste o conhecimento [...]. O povo que não tem entendimento será transtornado” (Os. 4:6,14 – grifo meu – cf. Jo. 5:39; 2 Pe. 3:17,18; 2 Co. 11:3).
Ainda creio que voltaremos ao culto como no princípio. Ainda creio que teremos o culto conforme descrito em 1ª Coríntios capítulo 14. Os pregadores do reteté, da profetada, dos diz-isso-ou-aquilo não terão mais espaço. Ainda oro, creio e espero!

Em Cristo
Adriano Wink Fernandes

segunda-feira, 25 de maio de 2009

PEÇA O MELHOR PARA DEUS

“Duas coisas te peço, ó Senhor; não as negues a mim, antes que eu morra: afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa; não me dês nem a pobreza nem a riqueza, mas dá-me só o pão que é necessário, para que de farto eu não te negue, e diga: quem é o Senhor? Ou empobrecendo, não venha furtar, e profane o nome de Deus” (Pv. 30:8,9).

Estamos vivendo o tempo da “abundância de Deus”, alguém defende com ‘unhas e dentes’ na sua calorosa ‘pregação’, tudo depende da semente de fé. “Pegue o envelope, escreva seu pedido de oração, coloque uma boa semente – em dinheiro, é claro – e exorta (olhe o tamanho da semente que você vai semear)”... Um famoso evangelista recebe uma ‘tremenda revelação’ e lança um livro onde expõe a grande revelação de que Deus há de transferir riquezas e mais riquezas para a igreja neste tempo do fim – afirma: “o que os megaespertalhões ricos e bilionários tem acumulado será redistribuído por Deus para igreja”. Na página onde consta os agradecimentos da obra lemos as impactantes palavras: “extraordinário livro [...] visão revolucionária e impactante [...] a leitura deste livro marcará sua vida e trará sobre você inúmeras bênçãos” (somente a leitura já será algo fora do natural. Imagine a prática!).
Outro empolgado pregador diz que devemos determinar sobre nós, nossa família, amigos, e irmãos as bênçãos de Deus; um mais ousado diz: “libere sobre o teu irmão uma bênção... abençoe teu irmão... declare sobre a vida dele tempos de prosperidade, não te cales, creia, seja um profeta de Deus nesta hora” (hoje está tão fácil ser profeta – é só declarar, liberar uma palavra); mais outro, cheio de gáudio, anima uma platéia ávida por vitória: “peça o melhor para Deus... o melhor carro, a melhor casa... com garagem, uma, duas ou até mais. Deus te dará um, dois, ou mais carros... o melhor emprego, o melhor salário... o melhor desta terra é nosso... o tamanho da tua fé determina o tamanho da tua bênção”.
Bíblias São lançadas como verdadeiros manuais para enriquecer, objetivando dar-se bem na vida, ser bem sucedido. Assim, são inumeráveis os pedidos e determinações diante de Deus para que venha o melhor – desta terra – para nós.
Li que bilhões de almas, implicam em assombrosas proporções financeiras, “custará bilhões de dólares alcançar bilhões de almas”. Impactante! Segundo o autor do livro, o trágico, é que há muitos chamados e poucos dólares para enviá-los. Impactante! Pelo que se vê, lamentavelmente, o Reino de Deus está sofrendo sérios prejuízos, e almas estão indo para eternidade sem Deus, unicamente por falta de dinheiro! Veja bem: não é por falta de pregação cristocêntrica, de oração intercessória, de consagração, de estar cheio do Espírito Santo, de culto onde o Espírito Santo esteja presente e fazendo o que Ele quiser, de unidade da Igreja, mas por falta de dinheiro!
Porém, na história da Igreja desde o Novo Testamento não vemos isto. O Evangelho foi propagado sem somas astronômicas de dinheiro; na maioria das vezes, literalmente, sem dinheiro. Uma leitura cuidadosa do Novo Testamento nos mostrará isso:
1. Paulo tinha o objetivo primordial de comunicar o Evangelho, e por vezes isso custou trabalhos sobre trabalhos (para auto-sustento), e com muita fadiga (física mesmo): “Certamente vos lembrais, irmãos, de nosso trabalho e fadiga; trabalhamos noite e dia para não sermos pesados a nenhum de vós, enquanto vos pregamos o Evangelho de Deus” (1ª Ts. 2:9);
2. Paulo tinha o mesmo ofício de Apolo, isto é, fabricantes de tendas (At. 18:3), se servia desse ofício para se sustentar;
3. Paulo, ao sair em propagação do Evangelho, foi suprido em suas necessidades por outros irmãos, diz ele: “Em tudo me guardarei de vos ser pesado, e ainda me guardarei” (2ª Co. 11:9; 12:16a).
Os testemunhos e biografias da história do cristianismo nos mostram a mesma coisa. É só dar uma voltinha por esse brasilzão.
O versículo no início deste artigo mostra a sincera oração: primeiro um coração reto diante do Senhor: “afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa”, depois “dá-me só o pão que é necessário” – preste atenção às prioridades. Hoje há uma inversão de prioridades, muitos querem ser abençoados, enriquecidos, livrados de vários problemas, porém não querem, de forma alguma, relacionamento com Aquele que é Poderoso para abençoar. Nos tempos de Jesus já havia isto (Jo. 6:26,27; 51, 60).
Quem nasce de novo, é nova criatura, tem uma perspectiva primeiramente espiritual, sumamente espiritual, suas prioridades são mudadas: das coisas da terra passa para as coisas do céu (Mt. 6:33; 6:19-21; Gl. 1:3; 4:1-6; Fp. 1:9-11; Cl. 1:9-10; 3:1-3; I Pe. 2:1-5; II Pe. 1:4-11). É preciso termos desejo de conhecermos, isto é, travarmos um relacionamento com o Deus, pois quando conhecermos com intimidade o Deus da bênção seremos gratos por qualquer situação, provação que Ele nos enviar, permitir; teremos certeza que Ele não deixa termos falta de coisa alguma (Mt. 6:25-34; Fp. 4:19).
Estamos, muitas vezes, qual filho que sai de casa, mas não sente falta dos pais, sem, no entanto recusar as benesses financeiras recebidas todos os meses – os recursos são bem vindos, mas o relacionamento íntimo com os pais não faz falta.
Tenho presenciado, pensativo e muitas vezes sem entender, sobre a maioria das campanhas feitas nas igrejas: quase que na sua totalidade envolvem dinheiro ou benesses puramente pessoais, egocêntricas. Todo mundo precisa de dinheiro; todas as pessoas tem uma questão financeira a ser milagrosamente resolvida. Ouvimos testemunhos de dinheiro aparecendo (milagrosamente) na conta bancária; coisas impossíveis de acontecer na área financeira ocorrem da noite para o dia; endividados se tornam livres e abastados num estalar de dedos; o carro que eu tanto sonhava, Deus (?) (milagrosamente) me deu; quando tomei a decisão e iniciei a novena (ou algo parecido – já que cada igreja determina a campanha pelo nome que quer), antes mesmo de terminar, Deus (?) me respondeu. Os casos são tantos. Os testemunhos os mais diversos. Acabei de ouvir um em que o ‘abençoado’ dizia: depois de vir para a igreja tal e fazer a campanha tal só viajo de avião, a minha empresa que estava falida, cresce assustadoramente, está de vento em popa, e conclui: Deus ‘tá rebentando’. Como dizia um diretor, chefe meu, tempo atrás: mas que tal!
Eu não duvido que Deus tenha bênçãos de ordem material, financeira, econômica para dar aos seus filhos (I Cr. 4:10; Pv. 3:9-10; 10:22; II Co. 8:15; 9:8-10). Abraão foi um homem rico; Jó perdeu tudo e Deus lhe deu em dobro; José foi um homem bem sucedido no Egito, pois chegou a ser o segundo em poder no governo; Salomão foi rico e poderoso; conheço irmãos que Deus tem abençoado financeiramente e eles tem abençoado a igreja dessa forma também, além, é claro, dos frutos dignos de arrependimento (Mt. 3:8). Mas uma boa olhada na Palavra de Deus nos mostrará que não foram (e não são) muitos os ricos, os milionários ou bilionários, nem os poderosos que Deus escolheu para a concretização da Sua obra, para o cumprimento do Seu eterno propósito (Dt. 7:7; I Co. 1:26-29; Mt. 4:18-22; Hb. 11: 1-40), certamente para que ninguém se gloriasse nas suas possibilidades. Conheço irmãos que foram verdadeiros desbravadores para anunciar o Evangelho e morreram financeiramente pobres, e muitos doentes. Anunciavam o Evangelho a cavalo, outros andavam quilômetros muitas vezes a pé, no entanto nunca vi eles pregarem sobre riquezas e mais riquezas. Não teria Deus o melhor cavalo para lhes dar? Dessa forma não iriam a pé.
Não sou contra ser abençoado, ou falar sobre riquezas e abundâncias e mesmo tê-las, o que não consigo entender e aceitar como normal e justo, é que na maior parte, a igreja está girando em torno das coisas daqui, como dizem, “o melhor desta terra é nosso”, então, peça o melhor para Deus – pouco se ouve testemunhos de conversões, batismo com Espírito Santo, uma mensagem que tocou profundamente e fez voltar-se mais sincero para Deus, desejoso de um relacionamento íntimo com Deus. Rotineiramente, os maiores cultos são intitulados da vitória, da restituição, da benção, das colheitas, da multiplicação. Dias destes escutava um programa evangélico e uma vinheta anunciava o grande culto intitulado ‘explosão de milagres’. Dificilmente num culto destes há uma exposição séria, senão profunda, da Palavra. Por quê? Não há tempo para isso. Porém a Palavra diz que os milagres confirmam a Palavra (Mc. 16:20), e não que milagres confirmam outros milagres, ou que os milagres confirmam o ministério de quem quer que seja.
“Os apóstolos não agendavam os milagres. Não marcavam cultos de libertação e cura. Não havia previsibilidade antecipada. Não agiam como secretários do Espírito Santo, tentando controlar e manipular a sua agenda. Eles não faziam propaganda dos sinais. Não colocavam faixas anunciando a presença de homens poderosos. Não faziam exposição de seus dotes espirituais. As coisas aconteciam dentro da liberdade e da soberania do Espírito. Eles não desviavam os olhos do povo para a igreja, não trombeteavam suas próprias virtudes. Enfeixavam todos os holofotes sobre Jesus”[1].
Faz tempo que ouço mensagens e apelos triunfalistas, pregações de auto-ajuda, e fico pensando sobre o que realmente é o melhor de Deus para nós, ou o que Deus tem de melhor para nós.
1. Asafe: o melhor de Deus para ele era totalmente oposto a sua visão. Enquanto ele via e deseja a prosperidade do ímpio – e questionava com Deus, tanto na vida quanto na hora da morte, falava da tranquilidade do ímpio, o melhor de Deus para Asafe era que ele estive na dependência divina (Sl. 73:23), fosse guiado pelo conselho do Senhor (Sl. 73:24); desejasse Deus acima de tudo – Deus fosse para ele o mais desejado, o mais excelente (Sl. 73:25); que Deus fosse a sua fortaleza, seu refúgio e que se aproximasse mais desejo (com inteireza de coração) diante de Deus (Sl. 73:26,28);
2. Profeta Amós: o melhor de Deus estava em que ele falasse a Palavra do Senhor, conquanto sua condição fosse de pobreza material (Am. 7:14,15);
3. Estevão, o diácono: o melhor de Deus consistia e não livrar-lhe do martírio, mas que ele suportasse as aflições e mesmo assim pregasse uma profunda e bibliocêntrica mensagem e deixasse um testemunho que impactou seus algozes (At; 7). Parece que nesse início Deus perdeu a oportunidade de provar ao mundo que a Igreja veio para conquistar os melhores espaços desta terra!
4. Apóstolo Paulo: a vontade do Senhor estava em ele padecer pelo nome de Cristo, como também consistia em que ele fosse revestido da maravilhosa graça, mas jamais que lhe fosse arrancado o espinho na carne (At. 9:16; II Co. 12:8-9). E isto lhe dava prazer (II Co. 12:10);
Leio sobre a história de Israel; a história do cristianismo desde o Novo testamento, e me pergunto: por que será que Deus deixou homens e mulheres de fé no Velho Testamento, e apóstolos e crentes do passado enfrentarem necessidades? Por que o Evangelho teve que ser propagado em meio a dificuldades extremas, onde até fome passaram os obreiros e crentes de então? Por que Paulo, o grande ícone do cristianismo, se privou de regalias, e até trabalhava com as próprias mãos para não ser pesado às igrejas? Por que o próprio Jesus, os Apóstolos e Paulo (que foi arrebatado ao terceiro céu), não tiveram a ‘grande revelação’ dos dias de hoje: Deus tem riquezas para você – determine, declare, profetize? Jesus, após a Sua ressurreição, foi revestido de Todo Poder (isso fala de que para Ele não há limites), no entanto não O vemos falando aos Discípulos que Eles seriam prósperos materialmente, que não teriam doenças e que seriam tão influentes em sua mensagem que seriam cabeça e jamais cauda (Mt. 10:19; Lc. 12:11-12; At. 4:1-3, 13).
Às vezes procuro imaginar um culto na Igreja em Jerusalém, ou em qualquer outro lugar nos tempos da Igreja primitiva e do primeiro século; ou ainda na China comunista de nossos dias; no Haiti; no Vietnã, nos lugares paupérrimos da África e em tantos outros no nosso Brasil; onde o pregador empolgado, começasse a dizer para que o povo declarasse, determinasse, profetizasse bênçãos e riquezas sobre a vida de quem quer que fosse – será que o povo entenderia alguma coisa? Eis a indagação: será que Deus não tem as mesmas riquezas para estes filhos, ou eles tinham ou tem, como popularmente se diz, muito ‘pecado para pagar’? Imagino o Apóstolo Paulo dizendo aos irmãos para lançarem uma grande semente (em dinheiro) para terem uma grande colheita. Não dê a menor moeda, dê a maior, que a tua bênção será maior. Porém quando abro a Bíblia, leio Paulo, que diz: “No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade [...]” (1ª Co. 16:2 – grifo meu).
Os cristãos davam não porque eram constrangidos por uma promessa mirabolante, porque eram ‘impulsionados’ a acreditarem que teriam muito mais do que estavam dando, isto é, pensando nos benefícios, mas sim, davam porque isso partia do coração, eram intimamente tocados pelo Espírito Santo, então davam, e davam com alegria (2ª Co. 8:3,5,10,12; 9:6,7). “Os Apóstolos [...] não faziam promessas ao povo de benesses terrenas e temporais, com vistas a atrair multidões. Eles não pregavam um evangelho fácil” [2].
Conforme 2ª Coríntios capítulos 8 e 9, os cristãos davam porque eles tinham gozo, eram ricos em generosidade (dar sem intenção de receber de volta), desejavam servir dessa forma; antes de abundar financeiramente, eles já tinham abundados em fé, ciência, zelo, amor e graça; davam espelhando-se em Cristo, Ele era o exemplo perfeito, queriam imitar o Mestre, queriam dar; tinham prontidão em dar, eram voluntários. Davam porque todo serviço, toda a ação de dar, redundava em glórias a Deus (2ª Co. 9:12-15). Ao combater os avarentos, Paulo fala sobre a proporção de semear pouco e muito.
Muitas vezes ouvimos pregadores dizerem: dê que o Senhor te dará cem vezes mais – e enfatiza: ‘tá’ na Bíblia! Acredito que se baseiam no texto em que Pedro certa vez argumentou com Jesus: “[...] nós tudo deixamos e te seguimos. Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que ninguém há, que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filho, ou campos, por amor de mim e do evangelho, que não receba cem vezes tanto, já no presente, em casas, irmãos, mães, filhos e campos, com perseguições, e no mundo por vir a vida eterna” (Mc. 10:28-30). Esse texto, de maneira alguma corrobora a máxima, em voga nos dias de hoje, de que dando certa quantia em dinheiro, o Senhor nos dará cem vezes mais da quantia ofertada. Se for, o que aconteceu com os discípulos que foram martirizados e todos morreram, literalmente, pobres? Paulo, mesmo sendo cidadão romano não tinha mansão em Roma – alugou uma casa. Tomamos cuidado! A oferta não anula a soberania de Deus.
Acredito e busco o melhor de Deus, porém vejo o melhor de Deus:
- Na Salvação que de graça foi oferecida (Jo. 3:16; Ef. 2:8,9);
- Na vida de renúncia para ser submisso a Deus (Mt. 16:24; Tg. 4:10; 1ª Pe. 5:6);
- Na abundante vida proporcionada pelo Espírito Santo (Jo. 7:38,39; Ef. 5:18);
- Na vitória diária sobre o pecado (Rm. 8:5-14; Gl. 5:16,24,25; Cl. 3:5-10);
- No poder da Palavra em me tornar sábio (119:98-100);
- No poder de Deus em cumprir Seu propósito (Sl. 138:7,8);
- No poder das provações para me tornar maduro e completo (Tg. 1:2-4; Rm. 5:1-5; Fp. 4:10-13; 2ª Pe. 1:1-11);
- Na graça proporcionada para perder tudo, menos Cristo (Fp. 3:8,9,13,14);
- Na busca constante pelas coisas lá de cima (Cl. 3:1-3; Fp. 3:20; 1ª Pe. 2:1-5);
- Na prática de orações e súplicas (Ef. 6:18; 1ª Ts. 4:17).
Acredito que Deus tem bênçãos imensuráveis para alcançar aos que o amam e o buscam, mas há prioridades inegociáveis na palavra de Deus (Mt. 6:33).
Vejamos esta oração de Paulo, pelos crentes de Éfeso (Ef. 3:14-20):
Primeiramente ele faz referência ao Filho e ao Pai:
1. Jesus Cristo é o Senhor (veja Rm. 10:9);
2. O Nome de Deus é poderoso;
Agora ele ora por bênçãos espirituais:
3. Para que sejam “fortalecidos com poder pelo Seu Espírito no homem interior” (veja II Co. 4:16);
4. Para que cristo habite pela fé; esteja constantemente presente nos corações (fé tem o sentido de renúncia, de coragem em servir a Jesus, de entrega total);
5. Para que estejais arraigados, fundados em amor (amor de Cristo);
6. Para que com perfeição conheçam a largura, comprimento, altura e profundidade e conheçam o amor de Cristo;
7. Que sejam cheios da plenitude de Deus. Isso é um longo processo dEle em nós (Cl. 1:6);
8. E encerra dizendo que Ele é poderoso para fazer muito além da nossa limitada capacidade, isto é, Ele é poderoso para nos levar a plenitude de Cristo (Rm. 15:29; Cl. 2:10; cf. Gl. 4:12-16).
Nada substituí o que é espiritual – a prioridade, para o cristão, é o que é do céu (Lc. 12:31).
A minha preocupação é com a indelével evidência que se tem dado às coisas da terra: o melhor desta terra é nosso; você tem que pedir o melhor desta terra; o crente não adoece; você não nasceu para sofrer; um Deus rico – dono do mundo – não tem filhos pobres. Enquanto a ênfase está nas coisas da terra, a pregação se dirige à mente, aí sutilmente entra o positivismo, a determinação, o engravidar, o sonho com a visão do que eu quero, e outras coisas do tipo. Dessa forma o alvo, que é o coração não sente nada, não é atingido.
O propósito do Senhor sempre foi atingir o coração do homem, as atitudes e frutos estão no coração: “Ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração [...]” (At. 2:37; Dt. 6:5 Cf. Mt. 22:37-40; I Sm. 16:7; Sl. 7:9; 19:8; 57:7; 69:32; 139:23; Pv. 4:23; 20:9; Is. 35:4; Jr. 11:20; 24:7; Ml. 4:6; Mc. 7:21 Cf. At. 5:3; Hb. 3:8; 4:7, 12; 8:10; 10:16; Lc. 24:32).
Muitas vezes, pelo que ouço, parece que a nossa pátria é por aqui mesmo, o céu é uma miragem, uma figura de linguagem, uma utopia, pois pouco se tem falado e pregado sobre o céu. Pouco se tem dito sobre as delícias do céu, sobre as coisas do céu. Em razão disso o que é certo tem sido substituído, sem qualquer análise bíblica, pelo que dá certo. Estamos vendo uma irrefreável busca pelos mais variados meios para alcançar objetivos (ditos) espirituais, conquanto não nos preocupamos com estes meios, pois temos dado ênfase aos fins alcançados ou desejados.
Que a oração de Paulo seja respondida, por Deus, sobre nós:
“Por causa disso me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome. Oro para que, segundo as riquezas da glória, vos conceda que sejais fortalecidos com poder pelo Seu Espírito no homem interior, para que Cristo habite pela fé nos vossos corações. E oro para que, estando arraigados e fundados em amor, possais perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus” (Ef. 3:14-19).


Em Cristo
Adriano Wink Fernandes
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[1] Pentencoste, o fogo que não se apaga. Hernandes Dias Lopes. Candeia
[2] Ibdem

segunda-feira, 18 de maio de 2009

VOCÊ PRECISA CRER (2)

A Teologia na parábola do Filho Pródigo
Veja Você precisa crer (1)
Jesus veio ao mundo trazendo salvação em virtude da queda do homem (João 3:16; Mateus 1:21; 9:12; Romanos. 3:23); o homem, arrependido, aceita a Jesus como Salvador, e passa a viver uma nova vida, isto é, não é mais somente alvo da santificação em Cristo, mas passa a ser o objeto da santificação pelo viver no Espírito (2ª Coríntios 5:17; Hebreus 12:14; Gálatas. 5:16).
falamos sobre a queda do filho pródigo, a sua saída deliberada da casa do pai em direção aos prazeres efêmeros do mundo. Foi uma atitude tomada no coração. As conseqüências da queda foram profundas na vida deste moço, pois o pecado leva ao afastamento de Deus no mais profundo do ser humano, ele altera todo pensar e o fazer, todos os aspectos da natureza humana são afetados pela queda. Ele experimentou a plena liberdade e paz na casa do pai, porém saiu em direção a mais profunda miséria espiritual, emocional, ética, psicológica, física e material, por causa da rebeldia em direção ao pecado. Na verdade, o retrato deste moço é a imagem de cada um de nós, “pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos. 3:23). Os degraus pelos quais passou e a queda que teve, mostram claramente o caminho da queda do homem.
Ao enamorar-se pelo pecado tudo parece belo, inspira liberdade, porém a realidade só é mostrada quando se dá o verdadeiro relacionamento (Gênesis 3:5-9). Segundo Tiago, o pecado é filho da concupiscência que por sua vez gera morte espiritual, jamais a vida (Tiago. 1:15) – o pecado jamais gerou vida, e infelizmente hoje o mundo está querendo a vida e a liberdade através do pecado. Acã só viu a dimensão da sua atitude pecaminosa quando Josué, na direção do Espírito, denunciou o pecado e mostrou o juízo que viria sobre quem o praticou; antes disso o pecado reluzia ouro (Josué capítulo 7).
Se a parábola terminasse aqui estaria incompleta. Não mostraria o caminho da redenção, o meio pelo qual o homem pudesse ser redimido da sua condição pecaminosa. A resposta de Jesus aos fariseus e escribas seria pela metade ou nem isso. No entanto o relato segue e Jesus aponta para o Caminho da redenção, da festa, do júbilo, da reconciliação. E vai além, apontando para o viver cristão. É nesse ponto que entraremos agora.
1. ARREPENDIMENTO
A Salvação foi oferecida por Deus em Cristo para toda a raça humana (João 3:16), é pela graça; é a prova de que temos um alto valor para o Criador, aliás, este valor é visto nas três parábolas. Deus jamais daria seu Filho – Unigênito – para restaurar algo sem valor. Nancy Pearcey diz: “na realidade, é só porque os seres humanos têm este tremendo valor que o pecado é tão trágico. Para início de conversa, se não tivéssemos valor, a queda teria sido uma ocorrência trivial” (simples).
A promessa de redenção registrada em Gênesis 3:15 foi cumprida por Deus – Ele já mostrou e provou a Sua fidelidade independente da nossa condição (Romanos 5:8; João 19:30). O passo que deve ser dado agora é o do pecador: ou aceita, ou rejeita (João 1:12-13; 3:18). O convite é feito através da Palavra anunciada, que, se dado crédito a esta Palavra, ela tem poder de gerar, no coração, a fé para a Salvação em Cristo por obra do Espírito Santo (Romanos 10:17; João 16:8-11).
a) O arrependimento e a confissão estão interligados. O filho pródigo reconheceu seu estado espiritualmente miserável, levantou-se, isto é, tomou uma atitude e confessou seu pecado diante do Pai (Lucas 15:18,21; veja Salmo 32:5; Provérbios 28:13; Romanos 10;9; 1ª João 2:23). O arrependimento ‘gera’ ternura e amor no coração do Pai, pois Ele se deleita na contrição do pecador, isto é, no arrependimento das culpas e pecados (Lucas. 15:20; Salmos 51:17; Isaías 57:15; 66:2). A posição tomada pelo filho foi algo do coração, a sua atitude mostrou o seu arrependimento: ele voltou humilde, disposto a mudar de atitudes, de pensamentos, achando-se (literalmente) indigno de ser recebido como filho (Lucas 15:19); mostrou-se triste por causa do pecado e correu em busca da solução – a Salvação.
b) O arrependimento conduz à Salvação em Cristo, que por sua vez traz benefícios nunca esperados pelo pecador arrependido. O filho pródigo, quando voltou, o máximo que queria, era ser como um trabalhador comum, não desejou nem sequer a posição de filho. No entanto, o Pai, amorosamente lhe deu todos os benefícios de filho. Deus jamais identifica o pecador arrependido como os demais, os Seus filhos Ele os destaca, lhes dá poder para serem filhos de Deus pelo sangue de Cristo Jesus (João 1:12); novas roupas (Gálatas 3:27; Efésios 4:24), calçados (Efésios 6:15), autoridade (Atos 1:8) – todas estas coisas ele perdera por ter voltado-se para o pecado, o inimigo havia lhe roubado e destruído (João 10:10; veja 1ª João 3:8) –; e por fim o banquete da celebração (Lucas 15:7,10,23), é o banquete da alegria pelo retorno do pecador arrependido, é a satisfação que Cristo sente pela obra salvífica, significa que a obra da cruz não foi em vão (Isaías 53:11).
Nancy Pearcey em seu livro Verdade Absoluta (CPAD) descreve o valor do homem nos termos do eterno querer de Deus em nos restaurar ao que originalmente éramos, isto é, antes de pecarmos: a imagem de Deus. Deus jamais se interessaria por algo sem valor, ignóbil. Você já deu tudo ou parte do que tem, seja em dinheiro ou em termos emocionais, por algo sem valor? Deus, para nos salvar, deu o Seu melhor, Ele não olhou para a nossa condição caída, sem valor, destroçados pelo pecado; ao contrário, na atitude receptiva, como da parábola, vemos que Deus espera diuturnamente pela nossa volta, arrependidos. O pecado destroçou o filho, lhe arranhou a imagem paterna, mas mesmo assim o pai o esperou, e esperou até que retornasse e assim restaurou tudo: as emoções que o filho extraviou, as riquezas que ele negociou com o pecado, a imagem deformada pela desobediência. O pai jamais cobrou do filho ou lhe disse que ele nada valia e que o prejuízo era irreparável, jamais! O pai lhe perdoou antes de ele confessar, o perdão não imputa dívida, nada cobra, o perdão de Deus restaura pelo amor através da cruz (2ª Coríntios 5:19; Colossenses 1:20-22).
c) Há três elementos que compõem o arrependimento: o elemento intelectual, o elemento emocional e o elemento pático. Vejamos:
c1) O filho pródigo ‘caiu em si’: ao chegar a esta conclusão revela-se o entendimento de que reconhecera estar no caminho errado, sua consciência lhe mostra que algo estava errado. É o reconhecimento intelectual de que ele estava no caminho errado. Compreendeu que – somente – na casa do pai há abundância de pão – vida (Lucas 15:17; João 10:10), e para isso precisava tomar a decisão de retornar; ele não estava morto fisicamente, mas sim, espiritualmente. O seu estado espiritual era miserável – por causa do pecado, chegou ao ponto mais baixo na convivência com o pecado. Experimentou a deploração, o abandono, a solidão; andar descalço fez lembrar-se do conforto da casa de seu pai. O que vemos é totalmente oposto à atraente liberdade dos degraus da queda pelos quais passou. Ao cair em si, o filho pródigo começa a caminhar pelo degrau do arrependimento. A Bíblia diz: “Hoje, se ouvirdes a sua voz”, ouvimos com os ouvidos, ouvimos a sua voz quando a Palavra é pregada; quando ouvimos somos levados a pensar no que ouvimos. O tempo em que ouvimos é Hoje, que é o tempo de decisão.
c2) Em seguida ele diz ‘levantar-me-ei, e irei’: Algo mexe profundamente em seus sentimentos, ele perturba-se; é o aspecto emocional do arrependimento, ele sente tristeza por ter ofendido a Deus (Pai). Paulo define como “a tristeza segundo Deus [que] opera arrependimento para a salvação, o qual não traz pesar [...]” (2ª Coríntios 7:10). No Evangelho de Lucas 18:18 até 23, temos um exemplo disso. Um jovem se aproxima de Jesus e lhe questiona algumas coisas concernentes à Salvação; ao receber as respostas de Jesus, e por fim um conselho para tirar o seu coração das riquezas que lhe prendiam, diz “Mas, ouvindo ele isto, encheu-se de tristeza”. A Palavra sempre provoca uma reação dentro do homem, porém, a decisão é livre e pessoal (João 12:48; Atos 4:11; Hebreus 12:25).
c3) E por fim “levantando-se, foi para seu pai”: É o elemento prático do arrependimento. Dá “meia volta... volver”, e começa a caminhar em direção à reconciliação, se propõe a mudar de vida, de propósito, e volta-se para Deus, quer produzir frutos dignos de arrependimento (Mateus 3:8). Vemos também, de modo prático, isso na vida de Zaqueu (Lucas 19:1-10). Diz-nos o texto que ele “procurava ver quem era Jesus [...]”. Ele já tinha ouvido sobre a mensagem de Jesus, algo tinha mexido com ele, por fim ele teve a oportunidade de conhecer mesmo quem era Jesus, e por fim Jesus diz: “Hoje veio a salvação a esta casa”.
d) A atitude do filho pródigo, em retornar, demonstrou reconhecimento que somente na casa do Pai havia verdadeira vida (Lucas 15:17). Além de reconhecer, ele tomou resolutamente o caminho em direção ao arrependimento. O arrependimento é “voltar-se para longe de, ou em direção de” (Elias Ribas). Consiste no abandono do pecado, das atitudes ora praticadas, do modo de vida escolhido, da rebeldia deliberadamente aceita, dos desejos da carne, das concupiscências da velha natureza, da incredulidade com relação a Deus e Sua Palavra.
O arrependimento é tão importante que João Batista, o precursor de Cristo, trouxe a mensagem e o batismo do arrependimento: “Arrependei-vos, pois está próximo o reino dos céus” (Mateus 3:2; Marcos 1:4; Lucas 3:3; veja Mateus 4:17); o texto bíblico nos mostra que é uma condição para entrada no reino dos céus, isso tem a ver com o participar das coisas de cima – do céu, tanto no viver como no pensar (Colossenses 3:1,2,3). Só entende as coisas do céu aquele que arrependeu-se dos seus pecados e entregou-se aos cuidados do Senhor.
Uma vez arrependido diante do Senhor, o homem passa a viver a vida como: justificado, regenerado, e santificado. É o que veremos a seguir.
2. JUSTIFICAÇÃO
Justificação é um termo judicial que lembra um tribunal. Deus, o Supremo Juiz, absolve o pecador das suas transgressões e o declara justo, isto é, justificado: em vez de receber a sentença de condenação, o homem recebe a sentença de absolvição. Desta forma, Deus, o ofendido, reconcilia consigo mesmo o homem, o ofensor.
A atitude do pai diante da confissão do filho é por demais admirável: “O filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti, já não sou digno de ser chamado teu filho”; admira-me a resposta do pai ao filho: NENHUMA. O pai nada disse ao filho em palavras, mas demonstrou seu perdão em atitudes elevadas. E o versículo que mais me chama atenção é: “Pois este meu FILHO estava morto, e reviveu, tinha-se perdido e foi achado. E começaram a alegrar-se”. A porta foi aberta por Deus. Vemos isso claramente nesta atitude do pai recebendo o filho pródigo: no momento em que o filho passou pela Porta, o passado se foi (2ª Coríntios 5:17). Não era necessário algum sermão exortativo e que fosse recheado de exemplos da vã maneira vivida pelo filho até então, mesclada com grande porte de moralidade para que o filho não viesse a errar novamente. Bradou o pai: ele REVIVEU! Foi ACHADO! Não havia nada mais importante a comemorar além da NOVA VIDA. Ninguém comemora a morte. Somente a vida é celebrada.
A justiça de Cristo, o Justo, é concedida ao ser humano, mediante a graça divina. Diz o texto bíblico: “Pois se pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muitos mais os que recebem a abundância da graça, e o dom da justiça, reinarão em vida por um só, Jesus Cristo. Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens, para a condenação, assim também por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens, para a justificação e vida. Pois como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos” (Romanos 5: 17 até 19).
3. REGENERAÇÃO
Enquanto a justificação nos lembra um tribunal, a regeneração nos lembra “uma cena familiar” (Myer Pearlman). A alma morta em transgressões e ofensas, precisa duma nova vida, sendo esta concedida por um ato divino de regeneração. A pessoa, por conseguinte, torna-se herdeira de Deus e membro de sua família.
Regeneração é "a grande mudança que Deus opera na alma quando a vivifica; quando Ele a levanta da morte do pecado para a vida de justiça" (João Wesley). Alguém disse que a religião de Jesus Cristo é "a única religião no mundo que declara tomar a natureza decaída do homem e regenerá-la, colocando-a em contato com a vida de Deus" (Conhecendo as Doutrinas da Bíblia, Myer Pearlman). Todas as demais religiões procuram reformar o caráter, isto é, você continua com o mesmo caráter, e através de ritos, penitências e auto-ajuda, vai tentando progredir.
Com O Evangelho é diferente, ele não reforma, mas ele transforma a vida do homem por completo, isto é, somos gerado de novo: de pecador para santo (literalmente). Isto porque o Seu fundador, que é CRISTO, ESTÁ VIVO; somente ELE pode salvar perfeitamente (Hebreus 7:25). Leia os textos de Efésios 4: 25,28; Tiago 3:14; Colossenses 3:1 até 17; Filipenses 4:8.
Não existe nenhuma analogia entre a religião cristã, e, digamos, o Budismo ou a religião maometana. De maneira nenhuma se pode dizer: "quem tem Buda tem a vida". (Vide 1 João 5:12.) Buda pode ter algo em relação à moralidade. Pode estimular, causar impressão, ensinar, e guiar, mas nenhum elemento novo foi acrescido às almas que professam o Budismo. Tais religiões podem ser produtos do homem natural e moral. Mas o Cristianismo declara-se ser muito mais. Além das coisas de ordem natural e moral, o homem desfruta algo mais na Pessoa de Alguém mais, Jesus Cristo.
O filho pródigo chegou à casa do pai literalmente sem nada, tudo o que ele tinha era inaproveitável: as roupas, os calçados, o caráter. Mas o pai amorosamente lhe deu tudo novo, ele foi regenerado. O pai não costurou as peças de roupas, não levou o calçado para concerto, não lhe deu conselhos de positivismo para que viesse mudar seu pensamento, não fez nada disso. Tudo o que o filho pródigo ganhou no retorno à casa do Pai foi do melhor: a túnica era nova e a melhor, o anel, que representava uma nova aliança com o pai, era de ouro, o calçado era novo e o melhor, e o bezerro era cevado. Vemos a bondade do Pai em dar sempre o melhor para Seus filhos, essa atitude faz parte do caráter de Deus-Pai (Êxodo 3:8; Mateus 19:29; Lucas 11:13; 18:7). Antes, no pecado, como filho pródigo, éramos inimigos de Deus e servos do Diabo; agora, feitos justo, pela justiça de Cristo que foi concedida, ele nos torna membro da família divina, adotados como filho de Deus (João 1:12).
A chegada do filho pródigo em casa, e o perdão recebido incondicionalmente o colocaram na posição de filho – foi regenerado. Temos aqui algo que pode ser comparado com a mesma condição de Onésimo, o escravo fugitivo da carta de Filemon. Sobre Onésimo Paulo disse para que fosse recebido “não já como escravo, [mas] como irmão amado” (Filemon v. 16). É essa relação paternal (e como membro da Igreja) que muitos não tem entendido, pois além de chegarem à igreja sem arrependimento, não entendem, que estar em comunhão com a Igreja (o corpo de Cristo sobre a terra) e igreja onde congrega ou igreja local, os coloca sob as mesmas responsabilidades e os direitos em Cristo. A posição de filhos coloca todos os Cristãos como tendo a origem no mesmo Pai, através de Cristo, pois pelo Seu sangue tivemos redenção (Efésios 4:1-6).
4. SANTIFICAÇÃO
Vimos que justificação nos lembra um tribunal; a regeneração nos lembra uma cena familiar; a santificação nos lembra a figura de um templo – isto é, fomos salvo e a nossa vida se harmonizou com a Palavra de Deus, assim fomos adotados na família divina, e a gora passamos ao serviço cristão.
Assim como o perdão trouxe-lhe os benefícios de uma nova vida, já não precisava estar distante do lar, da mesa farta, do teto; também lhe exigia agora uma vida segundo a graça alcançada pelo Pai – não podia mais desejar as festas lá fora, as amizades e muito menos as alfarrobas. Era preciso esforço para se identificar cada vez mais com os princípios estabelecidos pelo Pai. É o que chamamos de santificação.
O início já tinha se dado no arrependimento, depois tornando santo através da justificação e da lavagem da regeneração, operada na conversão, Paulo disse: “[...] mas fostes lavados, mas fostes santificados, mas fostes justificados em nome do Senhor Jesus, e pelo Espírito do nosso Deus” (1ª Coríntios. 6:11; veja Efésios 5:26; Hebreus 10:10; 13:12). Porém desse ponto em diante o que se dá (e que começou lá traz na decisão de voltar ao pai) é o processo santificador na vida do Cristão, é a constante mortificação das obras da carne para que o fruto do Espírito seja cada vez mais marcante, indelével (não pode ser apagado), firme no caráter do Cristão (Gálatas 5:16). É depois de passar pelo novo nascimento, da água e do Espírito, que o Cristão passa a andar e viver no Espírito (Romanos 8:1-17).
Entender a santificação não como um peso de dogmas e proibições, mas como um princípio divino e um privilégio dos que andam com Deus, é que faz a grande diferença entre o viver somente e o andar (conduta, princípio, dependência) segundo o Espírito. A santificação aponta para obra de Cristo na cruz, é lá, primeiramente, que todo o pecador arrependido é santificado (Hebreus 10:10-14); após isso, a santificação passa a ser uma experiência diária, pela qual todo o Cristão vai entendendo a vontade de Deus (Romanos 12:1-2; Filipenses 3:12-14). É nesse tempo que se dá a maturação, as experiências nos fazem crescer em Cristo, e o progresso espiritual torna cada vez mais patente a estatura de varão perfeito (2ª Pedro 1:3-8).
Conquanto vivamos uma vida de maturação, é bom entendermos que o processo santificador tem um alvo de alcance futuro, o que a carta aos Hebreus define como justos aperfeiçoados (Hebreus 12:22 até 24), e João faz uma declaração pelo Espírito de que seremos semelhantes a Cristo (1ª João 3:2).
Dessa forma vemos a santificação como a provisão de Deus para o Cristão; esta provisão se dá pela nossa identificação com Cristo em sua morte. “Precisamos subir à cruz com Ele, e de toda a nossa vontade renunciar ao ego que há causado todos os nossos distúrbios. A crucificação é o único meio de libertação” (Raimundo de Oliveira, 1994). Paulo deu entendimento sobre esta verdade quando disse: “Estou crucificado com Cristo, e já não vivo, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gálatas. 4:20).
O filho pródigo reconheceu a abundância na casa do Pai quando caiu em si, viu a sua miséria espiritual e foi em busca de perdão, reconciliando-se com o Pai. Antes, o Espírito nada podia fazer com relação à santificação em sua vida: estava no pecado, na podridão espiritual, no egoísmo. Quando ele tomou a decisão de retornar, já deu o primeiro passo da separação do pecado (2ª Timóteo 2:21), e ao mesmo tempo desejou o serviço na casa do Pai, isto é, queria identificar sua vida totalmente ao ideal do Espírito Santo (Romanos 12:1).

Este é um breve estudo com a base na parábola do filho pródigo. Muita coisa pode ser dita, no entanto, fica esta meditação, ainda que superficial, sobre a eficácia do poder salvífico de Deus na vida de quem crê. E de como é importante o Cristão andar com Deus, em comunhão com o Espírito Santo, para que lhe seja revelado a vontade de Deus.
Jesus encerra a parábola dizendo que o filho “estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado”.
Quando revivemos e somos achados, espiritualmente, é simplesmente o começo de uma grande obra de Deus.
“Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. [...] Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (João 7:38; 10:10).

Em Cristo,
Adriano Wink Fernandes