domingo, 5 de abril de 2009

VOCÊ PRECISA CRER (1)

ESTUDO COM BASE NA PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO
(EVANGELHO DE LUCAS 15: 11 ATÉ 32)
Objetivo: Entender a partir da parábola do filho pródigo, quatro aspectos doutrinários que envolvem a salvação:
1) arrependimento; 2) justificação; 3) regeneração; e 4) santificação.
As três parábolas de Lucas 15 mostram a necessidade que temos de crer ou de guardar muito bem em que e por que se crê.
As parábolas, da ovelha perdida, da dracma perdida e do filho pródigo, são uma resposta ao espírito inquiridor e desprovido de misericórdia dos fariseus e escribas (Lucas. 15:1-3). Jesus mostra-lhes a razão do seu ministério entre os espiritualmente perdidos e o porquê se assentava e comia com pecadores das mais variadas estirpes.
Para Cristo, assentar e comer junto era algo prazeroso. O que Jesus queria era aprofundar o relacionamento com as pessoas. Era esse o tipo de envolvimento de Cristo com os pecadores que incomodava os religiosos. Tais atitudes e práticas, para os referidos religiosos, eram por demais antiéticas frente ao ‘alto padrão’ prático-religioso da ‘pura’ casta legalista.
Tanto a parábola da ovelha perdida como a da dracma perdida mostram a involuntariedade nas atitudes: a ovelha se perdeu, porém não porque quis, mas saiu procurar alimento mais longe e se viu em lugares desconhecidos, penhascos e outros lugarejos perigosos e infestados de inimigos que lhe impunham medo frente a sua fragilidade, e aí entra a sensibilidade espiritual do pastor que sentiu sua falta e saiu ao seu encontro.
A dracma perdida descreve a infelicidade de uma mulher que perde algo de muito valor, e por mais que tivesse outras nove não se contenta enquanto não acha a única perdida; também não perdeu voluntariamente, mas talvez por um acidente de percurso, um descuido, um piscar de olhos, no entanto empenhou-se até achar, e após, fez uma grande festa, pois o júbilo do encontro não poderia ser gozado a sós.
A terceira parábola, a do filho pródigo, nos remete a pensar mais profundo, com mais acuricidade, pois mostra liberdade voluntária e deliberada em uma importante decisão. O maior problema do filho sonhador não foi a sua saída e os problemas em que se envolveu fora de casa. Gastar o que levou não trouxe nenhum prejuízo financeiro ao pai, pois era sua herança, ele tinha direito adquirido legalmente sobre o que pediu. O problema crucial do moço foi a sua incredulidade enquanto estava na fartura. Estava cego para o óbvio. No momento em que ele começou a olhar por cima do muro, seus olhos começaram a cegar para a feliz realidade presente, bem junto de si: na mesa farta, na cama, no convívio familiar; suas emoções quiseram extravasar além fronteiras paternas, pois a razão dizia-lhe que a felicidade pode extrapolar sem medo, sem temor de qualquer coisa. O problema não consistia em sonhar e ter uma visão mais aguçada e de maior alcance, mas sim, na sua decisão imatura e a sua certeza duvidosa de que o verdadeiro prazer estava em emoções ainda desconhecidas, mostrou-se falto de juízo, diz Salomão:
“Da janela da minha casa olhei por minhas grades. Vi entre os simples,
descobri entre os jovens, um falto de juízo”
(Provérbios. 7: 6-7 – ver todo o capítulo).
Não soube o pobre moço confrontar situações tão antagônicas: uma que ele vivia e sabia como era e, a outra distante, sem conhecimento, somente fruto de uma mente sonhadora e talvez influenciada por amigos oportunistas, utilitaristas.
É com base na terceira parábola que escrevo: você precisa crer.
A CONFIANÇA
Confiança é fruto de relacionamento. Ninguém confia no que não conhece – mesmo entre irmãos, a confiança vai sendo aprofundada na medida em que há convivência, os laços se entrelaçam à medida que há convivência sadia, que se conhece.
Deus nos proporciona em Cristo um relacionamento fiel e verdadeiro. O Espírito Santo foi deixado com a Igreja para que conhecêssemos as maravilhas da Sua Palavra. É o Espírito Santo que nos leva a um relacionamento íntimo com Deus revelando-nos as coisas de Deus (1ª Coríntios. 2:10,12,16). No entanto se faz necessário ter confiança em Deus em todas as circunstâncias. Se nos momentos de aperto corremos em busca de socorro urgente, nos momentos de bonança é tempo de permanecer firme e convicto de que somente em Cristo podemos todas as coisas (Filipenses. 4:13).
A confiança do filho pródigo se mostrou infrutífera, fraca, ignóbil, no momento da fartura, da bonança, do aconchego junto ao lar. É este o maior perigo a ser enfrentado pelo Cristão – quando todas as coisas vão bem (1ª Coríntios. 10:12).
O perigo mesmo, não é quando estamos passando por momentos de crises e dificuldades, pois estes nos ‘empurram’ para um lugar seguro, mas sim, quando todas as coisas vão bem, tudo ocorre de uma forma alegre e descontraída. O filho pródigo estava desfrutando de paz e de regalias quando tomou a decisão de sair de casa e desfrutar antecipadamente da sua herança. Por vezes nos reservamos a falar somente aos problemáticos, aos que estão passando por vales em qualquer área da vida. No entanto a Palavra de Deus nos adverte para estarmos atentos e vigilantes em qualquer momento, a posição do cristão, com relação às investidas do diabo, deve de sobriedade, vigilância, resistência, e sempre firmados na fé (1ª Pedro 5:8-9).
O filho pródigo achou o ‘gramado do vizinho’ mais verde; a liberdade fora dos portais de casa mais atraente, mais livre; a festa ‘lá fora’ melhor do que o banquete do lar; as amizades bem mais confiáveis do que ombro da família. Os atrativos foram tantos que o filho pródigo realmente achou que estava perdendo muito tempo em ficar em casa por mais alguns momentos. Provou estar desequilibrado em suas emoções e equivocado em suas ponderações (Provérbios 4:26-27). Os dois filhos (o pródigo e o mais velho) não conseguiram ver o que estava para deleite de ambos. A revelação do pai ao mais velho “todas as minhas coisas são tuas” valia também para o filho dissoluto. Este também não viu as riquezas que estavam ao seu alcance quando estava junto da família.
Há muitos hoje como esses dois filhos: um sai achando que aproveitará maiores riquezas fora do Caminho Verdadeiro – Jesus, outros estão juntos no Caminho (andando, mas não vivendo), cegos pela incredulidade e pela falta de conhecimento. Sem conhecimento falta experiência e, sem experiência não há maturação da confiança, já que esta está intimamente liga à esperança (Romanos 5:4).
A falta de conhecimento da Palavra reflete um resultado de inanição espiritual, porquanto quem não conhece a Palavra de Deus, muito menos conhecerá o Deus da Palavra. É na Bíblia que temos a recomendação e exortação para desejar o alimento espiritual; empregar diligência no crescimento em Cristo; ousar, pelo Sangue de Cristo em entrar em oração diante do Pai; buscar e pensar nas coisas de cima (1ª Pedro. 2:2-5; 2ª Pedro. 1:2-11; Hebreus. 10:19-23; 4:16; Efésios 3:11-12; Colossenses. 3:1-3).
Muitas vezes, por falta de esforço em conhecermos os benefícios da reconciliação em Cristo, e reconhecermos a nossa suficiência nEle, concluímos que as nossas bênçãos e maiores riquezas estão fora dos cuidados e do olhar do Pai. A queda do filho pródigo e a murmuração do irmão mais velho foram resultados de uma ignorância deliberada em relação aos direitos adquiridos pela filiação.
A DECISÃO
O filho mais moço da parábola tomou duas decisões movido por emoções vãs e um espírito desequilibrado: Salomão disse que “A soberba precede a ruína, e altivez do espírito, a queda” (Provérbios. 16:18).
Jesus não diz que houve alguma resistência do pai diante do pedido do filho. A primeira decisão: “O mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E o pai repartiu os bens entre os dois”. É salutar pensar que o pai tentou argüir com o filho e mostrar o perigo de tal decisão, e ainda, que o pai já viesse admoestando o filho há dias dos perigos para os quais a sua mente jovial e inexperiente estava se voltando. Todo o pai é (pelo menos deve ser) de mais experiência e ter maior visão do que o filho; deve enxergar os perigos nos quais o filho esteja a se embaraçar (Mateus. 13:52). Porém o filho da parábola não ‘deu a mínima’ para o que o velho tinha a dizer.
Após, ele vai para a segunda decisão, que consistia em partir e ‘desfrutar’ da herança recebida: “Poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntado tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente”.
A imaturidade do moço é vista na palavra ‘dissolutamente’. Dissoluto significa devasso, corrupto. Calvino referindo-se diz “tornamo-nos assim quando nos apartamos da palavra do Senhor, quando damos ouvidos às falsas doutrinas, quando nos abandonamos às superstições; quando, em suma, nos transviamos após nossos próprios planos, e não mantemos nossos pensamentos sob a autoridade da palavra do Senhor”. No grego é διεσκόρπισεν (diekóptisen) que significa espalhar, dissipar em várias direções, esbanjar, neste caso denota atitude rebelde, insubmissa e imatura. Essa mesma palavra é usada quando Cristo foi preso (“as ovelhas se dispersarão” Marcos. 14:27), nessa noite os discípulos foram dispersos em várias direções, espalharam-se como que desnorteados – não entenderam o que lhes fora dito quando andavam com Cristo, e na hora necessária a confiança foi abalada. Temo-la também mostrando a dispersão provocada pelo pecado que dispersou a humanidade de Deus e é reunida unicamente pela morte de Cristo (“andavam dispersos” João. 11:52); e ainda na dispersão que houve após a morte de Judas, o galileu, que segundo a história intitulava-se messias (“dispersos e reduzidos a nada” Atos. 5:36) – foi morto (provavelmente crucificado) pelo Império Romano que não aceitava um messias.
Em todas estas passagens citadas, a palavra dissoluto está ligada à decepção sofrida após uma decisão tomada ou uma experiência vivida. Em nenhum contexto salienta a confiança do homem, mas sempre parte de uma posição negativa (do homem), uma tomada de decisão precipitada ou resolvida, deliberada pela pressão das circunstâncias a que estava anteriormente confiada.
A decisão do moço foi em direção à queda, ao prejuízo, ao pecado. Poderíamos dizer que ele se auto-decepcionou, isto é, ele desviou a sua visão do que era bom, não confiou nas palavras e conselhos do pai e partiu segundo a sua própria razão.
PROPORÇÕES DA QUEDA
Toda decisão tomada, como a do filho pródigo, traz resultados desastrosos.
Este moço experimentou os degraus de uma queda sem precedente em sua vida. Nos primeiros degraus ele se achou nas asas da liberdade, intencionou galgar os mais altos caminhos da tão sonhada liberdade, pois a sua decisão se deu porque achou que estava preso, sem poder participar de coisas mais picantes e mais atraentes para a idade tão jovial.
Salomão falou dos perigos da pressa em várias circunstâncias da vida: em correr para o mal, em litigar ou disputar, em enriquecer, em falar diante de Deus, em irar-se (Provérbios 6;16,18; 25:8; 28:20; Eclesiastes 5:2; 7:9). O filho pródigo tinha todas estas coisas em seu caminho, o que podia ser evitado se ele tivesse ouvido a voz paternal; não soube honrar aos pais (Efésios 6:2,3). Certamente os conselhos paternos lhe advertiam (Provérbios 1; 4:1-10; 6:16-19), mas ele não deu ouvido, estava com o pé no degrau da obstinação, desejando dar o próximo passo ao degrau do egoísmo, enquanto ansiava colocar o pé no decisivo degrau da separação, para que pudesse rapidamente chegar ao pico: o degrau da sensualidade.
O convite do diabo jamais mostra as proporções da queda. Primeiramente ele enche o coração do incauto com promessas por demais irrecusáveis à carne que as anseia. São ilusórias promessas de ascensão, fantasiadas de uma falsa liberdade, alimentadas por uma visão que mais é miragem do que qualquer realidade, porém não pode ser discernida por quem deixou os ouvidos moucos para paternos conselhos exortativos (1ª Samuel 2:23-25; Provérbios 9:9-12; 13:1; 15:16,17; 25:28). O filho pródigo obstinou-se de tal forma que abraçou o egoísmo, vendo em sua frente que a principal decisão para a sonhada liberdade era a separação familiar e, dessa forma poderia ter tudo ao seu dispor: galera, festas, orgias, noitadas. Eram as efêmeras alegrias da sensualidade. Infelizmente um caminho de morte, a atração da concupiscência (Tiago 1:13-15). Salomão, inspirado pelo Espírito Santo, escrevera sobre este engano (Provérbios 14:12; 6:25).
A proporção da queda estava por vir; o pobre filho jamais pensava que suas escolhas dariam em lugares tenebrosos. Enquanto as fantasias lhe mostraram coisas coloridas, a realidade lhe reservava coisas desastrosas. Na sua mente entenebrecida e embebida pela sensualidade pensava o pobre moço que seu espírito se regozijava, porém o que estava a viver era a destruição espiritual: a fome lhe apontou aberta a porta da necessidade e infelizmente ele teve que entrar por ela; começou ele a sentir quão miserável é o degrau da humilhação (sob o comando do diabo) e que inevitavelmente o levou ao próximo degrau, o degrau da fome. Passados alguns dias ele cai em si e reconhece que a sua decisão foi desastrosa – antes ele sentia-se preso, conquanto estava livre na casa do pai; agora ele estava vivendo a tão sonhada liberdade, porém preso em seu espírito. É aqui que ele vê que todos os degraus foram pintados com falsos coloridos e falsas promessas, e na verdade nenhum deles era degrau de crescimento, mas somente de queda, que a certa altura virou em descida brusca ao abismo da solidão e do desespero: “Pois o salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23).

Continua...

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