sexta-feira, 10 de abril de 2009

O PROFETA SAMUEL E O NOSSO TEMPO

Samuel foi um filho, que por mais que tenha sido fruto de um voto diante de Deus, serviu na casa do Senhor chamado e levantado por Deus para o desempenho ministerial. Ana clamou por um filho, Deus lhe respondeu dando-lhe o filho e provendo-Se de um Sacerdote e Profeta.
Algumas coisas, porém nada de coincidência, nos fazem ver certa realidade do tempo de Samuel, no contexto espiritual e moral, com os nossos dias – os dias trabalhosos.
Vejamos o contexto da época:
1. Samuel foi servir no templo quando era criança, pois fora voto de gratidão de sua mãe entregá-lo ao serviço na casa do Senhor (I Sm. 1:11, 28; 2:11);
2. Samuel chegou à casa do Senhor em tempos turbulentos. Eli era o sacerdote – porém já sem autoridade; Hofni e Finéias estavam moralmente e espiritualmente depravados – a fama deles era horrível em Israel. Eram chamados de filhos de Belial, ou seja, homem vil; perverso de boca e de coração, que acena com olhos, mãos e pés; maquinador do mal e semeador de contendas (Pv. 6:12-14).
3. A glória – a presença de Deus – se afastara de Israel (I Sm. 4:20-22; 5:1-12; 6:1-12);
4. A nação de Israel estava acuada diante dos filisteus, e por causa disso, teve perdas significativas em duas batalhas – 34 mil homens de Israel, inclusive quando a arca do Senhor estava com eles (I Sm. 4:1-2; 10-11);
5. O povo estava de mãos dadas com a idolatria (I Sm. 7:3-4) – não servia ao Senhor de coração íntegro.
Samuel tinha tudo ao seu favor para ser um sacerdote relapso, dissoluto, corrupto e indiferente para com a seriedade da obra de Deus. No entanto escolheu não seguir os exemplos ao seu lado, mas ouvir a voz do Senhor e fazer o que o Senhor lhe ordenava. A bíblia registra que:
a. Em contraste com a ministração corrompida de Hofni e Finéias, pois faziam o que bem entendiam com as coisas sagradas, “Samuel, porém, ministrava perante o Senhor. [...] Crescia em estatura e em graça diante do Senhor e dos homens” (I Sm. 2:12-18,26).
Samuel procurou ouvir a voz do Senhor, entender o que o Senhor queria e seguir a vontade de Deus. Ministrar perante o Senhor denota integridade ministerial e moral, isto é, andava em retidão e justiça diante de Deus e dos homens. Acredito que não fora fácil para Samuel manter-se em postura firme pela verdade. Os homens que estavam corrompidos e corrompendo eram os da classe sacerdotal, juízes em Israel, e filhos do sacerdote Eli; Samuel, conquanto novo, teve a maturidade suficiente para ver que havia graves erros na conduta deles – eles não respeitavam as coisas sagradas, eles não obedeciam a Lei.
Estamos vivendo dias parecidos – se não iguais. Estamos em tempos de corrupção ministerial, infelizmente. Homens corrompidos estão corrompendo o sagrado ministério, isto é, não tem responsabilidade nenhuma com o ministério que lhes fora confiado pelo Senhor; em sua carnal sensualidade, secularizam o chamado ministerial, e estão fazendo o que bem entendem: negócios financeiros ilícitos e extrapolados; pecados morais ficam escondidos (adultério, fornicação, prostituição, homossexualismo, etc.); estão introduzindo – no culto, como também na vida quanto na prática ministerial – sutilmente, inovações que nada tem a ver com a Palavra e a direção do Espírito Santo; muitos estão guiando a igreja e ministrando (mais) através de (somente) capacidades naturais (politicamente, carisma, influência pessoal, poder) em detrimento da orientação do Espírito Santo.
b. Em tempos de escassez da Palavra e visões do Senhor, “Samuel servia ao Senhor” (I Sm. 3:1).
Samuel foi levantado por Deus e colocado na casa do Senhor porque o Senhor desejava trazer um reavivamento em Israel. Porém todo reavivamento tem que começar pelo altar e nunca pelo povo.
A raridade da Palavra do Senhor e das visões naquele tempo era devido à corrupção sacerdotal que se instalara deliberadamente em todo serviço na casa do Senhor.
Deus não tinha mais como operar através de sacerdotes corruptos. Hofni e Finéias não tinham nenhum respeito para com as coisas sagradas. Os sacrifícios eles assaltavam para satisfazer seus desejos, o que diz a bíblia ser “[...] muito grande o pecado destes moços” (I Sm. 2:12-17); além disso eles estavam envolvidos com pecados morais pois “tinham relações com as mulheres que serviam à porta da tenda da congregação” (I Sm. 2:22); diante de tudo isso a fama deles era péssima (I Sm. 2:24).
A fama está relacionada com aquilo que fazemos. Se fizermos coisas más, a fama será má, se fizermos coisas boas, a fama será boa; muitos tem escondido a má fama atrás de uma capa de santidade, mas a Bíblia diz que o pecado havendo concebido gera a morte, e que nada há escondido que não seja revelado. O povo não podia ouvir o que os sacerdotes tinham a dizer, pois o que eles faziam (a fama deles) falava mais alto do que o que eles diziam. O Senhor não os usava, já tinha os rejeitado, e a Palavra diz que “[...] o Senhor os queria matar”.
Há muitas igrejas em que a Palavra do Senhor – a pregação bíblica e cristocêntrica – é rara (quando não proibida), e as visões do Senhor há muito se foram. Isso é porque o ministério está corrompido. Não há mais temor no altar, como diz o hino: “parece que o pecado não é pecado mais; parece que o errar não é errado mais”. Hoje, muitas mensagens estão sendo deixadas de lado por que pode atingir homens (importantes, de fama), que mesmo no púlpito, estão envolvidos nos mais variados pecados; fazem parte do ministério, são pregadores, são ensinadores, mas estão com a vida embebida em pecado sobre pecado (Jd. 11-13) - mas não são Profetas!
Não se pode falar contra avalanche de divórcio, porque há obreiros, nos púlpitos, divorciados; não se pode falar contra os pecados morais (adultério, fornicação, prostituição, homossexualismo), porque há obreiros de mãos dadas com esses pecados, e muitas vezes se mexer com eles, poderá vir à tona pecados horríveis de outros; não se pode falar com relação à seriedade administrativa e/ou financeira porque, inclusive, a seriedade administrativa de muitas igrejas é dúbia; e assim por diante; não se pode falar a verdadeira doutrina, porque há muitos de mãos dadas com liberalismo teológico. Devido a algumas porções de ‘fermento’ negligenciadas no caminho, está havendo uma levedação quase que total.
A Palavra de Deus estava rara nos dias de Samuel porque os sacerdotes encontravam-se de mãos dadas com o pecado. Enquanto Hofni e Finéias estavam na prática dos mais variados pecados, Eli não tinha mais autoridade para detê-los. Por quê? Porque os honrava desta forma, Deus disse a Eli: “[...] por que honra a teus filhos mais do que a mim [...]?” (I Sm. 2:29). Há muitos obreiros que não estão praticando o pecado, mas que devido ao seu silêncio, pois não pregam contra, estão honrando os que tais coisas fazem. Honrar é colocar em evidência, é falar bem (sobre alguém, sobre algo), como pode ser também simplesmente deixar à vista, isto é, não se envolver. Honrar, biblicamente, não é, de forma alguma, lisonjear. Muitos perguntam: mas aquele não tem feito isso e isso? Como está ali (no púlpito)? Deus não se agrada com estas coisas, e a conseqüência é que a Palavra de Deus vai ficando rara e as visões – manifestações genuínas do Espírito Santo – com menos freqüência ainda (I Sm. 3:1).
Conheço obreiros que dizem não ser necessária a confissão de pecados, como o adultério, nem para o cônjuge e família, quanto mais para o ministério. Não sou defensor da confissão auricular, mas devido à gravidade de certos pecados, faz-se necessário a confissão (o pedido de perdão) diante do cônjuge e da família, e também diante do ministério. Uma vez imposta as mãos do ministério sobre alguém, jamais este será visto como comum entre o povo. Paulo disse ter alcançado misericórdia por ter reconhecido sua condição de pecador (I Tm. 1:16); Salomão recomenda a confissão e o abandono do pecado para alcançar misericórdia (Pv. 28:13). Há muitos, infelizmente obreiros, que macularam o leito, e continuam andando como se nada tivesse acontecido (Hb. 13:4). Continua o hino anterior “pecados encobertos Deus vai requerer, por isso muitos hoje estão a sofrer”.
Quando Acã pecou foi contra Deus, e o prejuízo veio sobre nação de Israel – foi punido e morto pela congregação. Josué poderia ter-lhe chamado para um cantinho e ‘negociado’ com ele – mas sabia Josué que isto não agradaria a Deus, e resultaria em decadência moral sobre Israel (Js. 7). Poderia Acã continuar sendo um guerreiro de moral se o seu pecado fosse encoberto, negociado? O que diria ele diante do pecado de algum irmão seu? Ficaria ele paciente sabendo que havia derrota sobre Israel por causa de algum pecado escondido? Por isso o pecado não pode ser encoberto. Pecados encobertos abrem as portas para frouxidão moral e espiritual, a autoridade entra em decadência (I Co. 5:6). A igreja em Corinto estava deliberadamente complacente com o pecado que grassava, mas Paulo os repreendeu e disse que os tais deviam ser punidos com a disciplina do Senhor; o silêncio dos corintos diante do pecado era porque estavam inchados, isto é, tomados de orgulho, e isto impedia de sentirem tristeza por causa do pecado (I Co. 5:1-6; cf. 6:1-11).
Hoje, perante a Constituição, somos repletos de regalias e apoio para fazermos o que quisermos, e ninguém pode falar nada; infelizmente muitos tomam atitudes, amparados na moral dos homens, esquecendo que a ética e moral cristã está muito acima de qualquer valor moral humano. Mas tenhamos cuidado! (I Co. 6:1-11). Deus não vai deixar de punir o pecado porque a Constituição não pune. A Palavra do Senhor não passará (Mt. 24:35; cf. Jr. 25:14; 51:56; Rm. 12:19), a lei da semeadura e da colheita é bíblica (Gl. 6:7). Podemos nos esconder, em artigos constitucionais, diante dos homens; mas perante Deus, jamais – Deus é onisciente, onipotente e onipresente (Sl. 139:7-16).
c. Diante da queda moral do sacerdócio, o povo de Israel “[...] conheceu que Samuel estava confirmado como Profeta do Senhor” (I Sm. 3:20).
A decadente situação que se encontrava o sacerdócio nos tempos de Eli refletia a necessidade de mudanças profundas e espirituais. Por mais que a situação fosse caótica, Deus estava no comando. O poder da oração vai muito além do que podemos imaginar. Enquanto Ana sentia-se grata a Deus por lhe dar um filho como resposta a sua oração, Deus havia escolhido o seu filho para por em ordem as coisas em Israel.
Tempos de crise são propícios para revelarem que são os corajosos para cuidarem dos negócios do Pai (Lc. 2:49).
O compromisso de Samuel era com Deus, com a Sua Palavra. Samuel não precisou punir os que estavam brincando com o ministério e com as coisas sagradas. Quem os puniu e os extirpou foi Deus (I Sm. 2:25-36; 4:11,17,18). A posição firme que Samuel precisou ter foi com relação à Palavra, o povo reconheceu Samuel como Profeta porque que a Palavra de Deus na sua boca era verdade, o Senhor honrava e não deixava as palavras de Samuel cair por terra (I Sm. 3:19-21).
As derrotas sofridas pelo povo de Israel diante dos filisteus revelam a confusão espiritual em que estavam. Foram derrotados inclusive com a Arca do Senhor no meio deles (I Sm. 4:4,10,11); o povo jubilou de forma tremenda e retumbante quando a Arca chegou no meio deles, mas na verdade, Deus não estava contente com eles, pois o coração de todos estava voltado para os ídolos e a prostitução. Dessa forma não houve vitória como esperavam, mas novamente foram derrotados, e de forma mais humilhante. Nem sempre os “júbilos” do culto corroboram a presença do Senhor. Vivemos tempo de muitos louvores e cânticos; porém pouca adoração, oração e Palavra!
Eles estavam vivendo uma sequidão espiritual. “[...] e toda a casa de Israel suspirava pelo Senhor” (I Sm. 7:2). Nesse tempo Samuel os conclama ao arrependimento e a reconciliação com Deus.
1. “Se de todo o vosso coração vos converteis ao Senhor”: o Senhor exigia uma conversão de coração, era mudança de atitude, de conduta, uma volta aos princípios da Palavra. Deus não estava contente com exterioridades; atitudes piedosas somente de aparência. Quando a Arca da aliança foi trazida de Siló, houve gritos, a terra estremeceu, houve voz de júbilo. Mas eram atitudes que revelavam um egocentrismo, o povo só queria a vitória sobre os filisteus, mas estavam distante da adoração genuína.
Deus somente é adorado em espírito e em verdade, isto é, adoração que parte de corações convertidos a Ele. Samuel os chamou à conversão, e conversão verdadeira revelava algumas atitudes na prática deles.
2. “tirai dentre vós os deuses estranhos e as astarotes”: o coração de Israel estava voltado para a idolatria. Eles queriam as bênçãos de Deus, mas não queriam largar a corrupção espiritual em que estavam envolvidos. Era muito cômodo para o eu de cada um, obter vitórias sobre os filisteus e continuar na prostituição com os deuses falsos – queriam estar livres do jugo dos filisteus, mas ao mesmo tempo, não queriam largar os deuses dos filisteus. Isto revela uma dicotomia espiritual anátema: ao mesmo tempo muitos querem as bênçãos de Deus e as benesses condenadas por Deus de um mundo decaído.
Tem muitos, nos dias de hoje, que vão à casa do Senhor buscar as bênçãos de Deus. Decretam, determinam, fazem campanhas de semanas ou dias, mas não querem um compromisso sério com a Palavra, pois a Palavra condena as suas obras más. Querem a bênção que lhes enriquece o eu e ao mesmo tempo andam de mãos dadas com adultério, a mentira, o roubo, a feitiçaria, a bebedeira, o divórcio, as falcatruas financeiras, e assim por diante. Se houver conversão genuína tudo que é estranho e condenável pela Palavra de Deus será extirpado.
3. “Preparai o vosso coração ao Senhor e servi a Ele só”: um coração convertido ao Senhor serve a Ele só.
Um dos aspectos da Salvação é santificação, e isto relaciona-se com o culto à Deus. O salvo dedica-se unicamente para as coisas do Senhor, isto é, em todas as práticas e atitudes o seu interesse é glorificar a Deus. Servir ao Senhor significa estar disposto e viver dedicadamente ao Serviço a Deus, e isto provoca no cristão uma entrega contínua e diária ao Seu Senhor. Israel não podia servir ao Senhor na conquista dos inimigos e, depois aliar-se ao inimigo e servir-lhe em todas as suas práticas – pois isso era abominação diante de Deus – Deus não aceitava isso.
Para muitos, avivamento é um emaranhado de inovações, de coisas novas a acontecer, mas na verdade não é bem assim. Avivamento, antes de tudo, é uma volta àquilo que foi abandonado por causa da secularização. Israel havia abandonado a verdadeira adoração; não andava mais perante o Senhor; não cultuava a Deus e muito menos respeitava as coisas do Senhor, conquanto ainda insistisse em querer as bênçãos de Deus.
Ao ouvirem as repreensões e exortações de Samuel eles resolveram tirar “dentre si os baalins e as astorotes, e serviram só ao Senhor” (I Sm. 7:4). Veja como foi simples! Não precisou de inovações e novas revelações, eles só tiveram que voltar ao que era antes: adorarem só ao Senhor; servirem só ao Senhor.
Muitos problemas não tem sido resolvidos nos arraiais da igreja por falta da Palavra. A porta está aberta para o caminho largo, para pecados tão grassos, porque está faltando Palavra, pregação bíblica, profecia, temos pregadores em abundância, mas Profeta do Senhor é coisa rara. Sem a Palavra não há conhecimento do Senhor. Quando Samuel os chamou ao arrependimento não fez aos gritos e a meias-palavras, mas falou-lhes a verdade, tocou-lhes a ferida; porém não ficou nisso, Samuel orou por eles, intercedeu por eles e se dispôs a oferecer sacrifícios em favor da vitória sobre os filisteus.
Um coração convertido se torna preparado para o serviço na casa do senhor, o passo seguinte é Deus quem dá, pois é um passo de vitórias sobre os inimigos. Após o arrependimento, Samuel pôde orar por eles, houve confissão, jejum (consagração, santificação) e houve uma grande e definitiva vitória sobre os filisteus (I Sm. 7:5-14).
Que o Senhor nos ajude a nos voltarmos para Sua Palavra. Acredito não ser tempo de bênçãos materiais, financeiras – e infelizmente isto está sendo tão desejado, tão buscado nos dias de hoje (quem busca em primeiro lugar o “reino e a sua justiça” tem sobre si essas Bênçãos [Mt 6:25-34]); o que estamos precisando é de Bênção espiritual em Cristo Jesus, para isso é necessário ter o coração convertido ao Senhor, desejar as coisas de cima, almejar a nossa pátria celestial, conhecer e prosseguir em conhecer ao Senhor.

Chega de inovação! Precisamos de avivamento bíblico!

Em Cristo
Adriano Wink Fernandes

domingo, 5 de abril de 2009

VOCÊ PRECISA CRER (1)

ESTUDO COM BASE NA PARÁBOLA DO FILHO PRÓDIGO
(EVANGELHO DE LUCAS 15: 11 ATÉ 32)
Objetivo: Entender a partir da parábola do filho pródigo, quatro aspectos doutrinários que envolvem a salvação:
1) arrependimento; 2) justificação; 3) regeneração; e 4) santificação.
As três parábolas de Lucas 15 mostram a necessidade que temos de crer ou de guardar muito bem em que e por que se crê.
As parábolas, da ovelha perdida, da dracma perdida e do filho pródigo, são uma resposta ao espírito inquiridor e desprovido de misericórdia dos fariseus e escribas (Lucas. 15:1-3). Jesus mostra-lhes a razão do seu ministério entre os espiritualmente perdidos e o porquê se assentava e comia com pecadores das mais variadas estirpes.
Para Cristo, assentar e comer junto era algo prazeroso. O que Jesus queria era aprofundar o relacionamento com as pessoas. Era esse o tipo de envolvimento de Cristo com os pecadores que incomodava os religiosos. Tais atitudes e práticas, para os referidos religiosos, eram por demais antiéticas frente ao ‘alto padrão’ prático-religioso da ‘pura’ casta legalista.
Tanto a parábola da ovelha perdida como a da dracma perdida mostram a involuntariedade nas atitudes: a ovelha se perdeu, porém não porque quis, mas saiu procurar alimento mais longe e se viu em lugares desconhecidos, penhascos e outros lugarejos perigosos e infestados de inimigos que lhe impunham medo frente a sua fragilidade, e aí entra a sensibilidade espiritual do pastor que sentiu sua falta e saiu ao seu encontro.
A dracma perdida descreve a infelicidade de uma mulher que perde algo de muito valor, e por mais que tivesse outras nove não se contenta enquanto não acha a única perdida; também não perdeu voluntariamente, mas talvez por um acidente de percurso, um descuido, um piscar de olhos, no entanto empenhou-se até achar, e após, fez uma grande festa, pois o júbilo do encontro não poderia ser gozado a sós.
A terceira parábola, a do filho pródigo, nos remete a pensar mais profundo, com mais acuricidade, pois mostra liberdade voluntária e deliberada em uma importante decisão. O maior problema do filho sonhador não foi a sua saída e os problemas em que se envolveu fora de casa. Gastar o que levou não trouxe nenhum prejuízo financeiro ao pai, pois era sua herança, ele tinha direito adquirido legalmente sobre o que pediu. O problema crucial do moço foi a sua incredulidade enquanto estava na fartura. Estava cego para o óbvio. No momento em que ele começou a olhar por cima do muro, seus olhos começaram a cegar para a feliz realidade presente, bem junto de si: na mesa farta, na cama, no convívio familiar; suas emoções quiseram extravasar além fronteiras paternas, pois a razão dizia-lhe que a felicidade pode extrapolar sem medo, sem temor de qualquer coisa. O problema não consistia em sonhar e ter uma visão mais aguçada e de maior alcance, mas sim, na sua decisão imatura e a sua certeza duvidosa de que o verdadeiro prazer estava em emoções ainda desconhecidas, mostrou-se falto de juízo, diz Salomão:
“Da janela da minha casa olhei por minhas grades. Vi entre os simples,
descobri entre os jovens, um falto de juízo”
(Provérbios. 7: 6-7 – ver todo o capítulo).
Não soube o pobre moço confrontar situações tão antagônicas: uma que ele vivia e sabia como era e, a outra distante, sem conhecimento, somente fruto de uma mente sonhadora e talvez influenciada por amigos oportunistas, utilitaristas.
É com base na terceira parábola que escrevo: você precisa crer.
A CONFIANÇA
Confiança é fruto de relacionamento. Ninguém confia no que não conhece – mesmo entre irmãos, a confiança vai sendo aprofundada na medida em que há convivência, os laços se entrelaçam à medida que há convivência sadia, que se conhece.
Deus nos proporciona em Cristo um relacionamento fiel e verdadeiro. O Espírito Santo foi deixado com a Igreja para que conhecêssemos as maravilhas da Sua Palavra. É o Espírito Santo que nos leva a um relacionamento íntimo com Deus revelando-nos as coisas de Deus (1ª Coríntios. 2:10,12,16). No entanto se faz necessário ter confiança em Deus em todas as circunstâncias. Se nos momentos de aperto corremos em busca de socorro urgente, nos momentos de bonança é tempo de permanecer firme e convicto de que somente em Cristo podemos todas as coisas (Filipenses. 4:13).
A confiança do filho pródigo se mostrou infrutífera, fraca, ignóbil, no momento da fartura, da bonança, do aconchego junto ao lar. É este o maior perigo a ser enfrentado pelo Cristão – quando todas as coisas vão bem (1ª Coríntios. 10:12).
O perigo mesmo, não é quando estamos passando por momentos de crises e dificuldades, pois estes nos ‘empurram’ para um lugar seguro, mas sim, quando todas as coisas vão bem, tudo ocorre de uma forma alegre e descontraída. O filho pródigo estava desfrutando de paz e de regalias quando tomou a decisão de sair de casa e desfrutar antecipadamente da sua herança. Por vezes nos reservamos a falar somente aos problemáticos, aos que estão passando por vales em qualquer área da vida. No entanto a Palavra de Deus nos adverte para estarmos atentos e vigilantes em qualquer momento, a posição do cristão, com relação às investidas do diabo, deve de sobriedade, vigilância, resistência, e sempre firmados na fé (1ª Pedro 5:8-9).
O filho pródigo achou o ‘gramado do vizinho’ mais verde; a liberdade fora dos portais de casa mais atraente, mais livre; a festa ‘lá fora’ melhor do que o banquete do lar; as amizades bem mais confiáveis do que ombro da família. Os atrativos foram tantos que o filho pródigo realmente achou que estava perdendo muito tempo em ficar em casa por mais alguns momentos. Provou estar desequilibrado em suas emoções e equivocado em suas ponderações (Provérbios 4:26-27). Os dois filhos (o pródigo e o mais velho) não conseguiram ver o que estava para deleite de ambos. A revelação do pai ao mais velho “todas as minhas coisas são tuas” valia também para o filho dissoluto. Este também não viu as riquezas que estavam ao seu alcance quando estava junto da família.
Há muitos hoje como esses dois filhos: um sai achando que aproveitará maiores riquezas fora do Caminho Verdadeiro – Jesus, outros estão juntos no Caminho (andando, mas não vivendo), cegos pela incredulidade e pela falta de conhecimento. Sem conhecimento falta experiência e, sem experiência não há maturação da confiança, já que esta está intimamente liga à esperança (Romanos 5:4).
A falta de conhecimento da Palavra reflete um resultado de inanição espiritual, porquanto quem não conhece a Palavra de Deus, muito menos conhecerá o Deus da Palavra. É na Bíblia que temos a recomendação e exortação para desejar o alimento espiritual; empregar diligência no crescimento em Cristo; ousar, pelo Sangue de Cristo em entrar em oração diante do Pai; buscar e pensar nas coisas de cima (1ª Pedro. 2:2-5; 2ª Pedro. 1:2-11; Hebreus. 10:19-23; 4:16; Efésios 3:11-12; Colossenses. 3:1-3).
Muitas vezes, por falta de esforço em conhecermos os benefícios da reconciliação em Cristo, e reconhecermos a nossa suficiência nEle, concluímos que as nossas bênçãos e maiores riquezas estão fora dos cuidados e do olhar do Pai. A queda do filho pródigo e a murmuração do irmão mais velho foram resultados de uma ignorância deliberada em relação aos direitos adquiridos pela filiação.
A DECISÃO
O filho mais moço da parábola tomou duas decisões movido por emoções vãs e um espírito desequilibrado: Salomão disse que “A soberba precede a ruína, e altivez do espírito, a queda” (Provérbios. 16:18).
Jesus não diz que houve alguma resistência do pai diante do pedido do filho. A primeira decisão: “O mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E o pai repartiu os bens entre os dois”. É salutar pensar que o pai tentou argüir com o filho e mostrar o perigo de tal decisão, e ainda, que o pai já viesse admoestando o filho há dias dos perigos para os quais a sua mente jovial e inexperiente estava se voltando. Todo o pai é (pelo menos deve ser) de mais experiência e ter maior visão do que o filho; deve enxergar os perigos nos quais o filho esteja a se embaraçar (Mateus. 13:52). Porém o filho da parábola não ‘deu a mínima’ para o que o velho tinha a dizer.
Após, ele vai para a segunda decisão, que consistia em partir e ‘desfrutar’ da herança recebida: “Poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntado tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente”.
A imaturidade do moço é vista na palavra ‘dissolutamente’. Dissoluto significa devasso, corrupto. Calvino referindo-se diz “tornamo-nos assim quando nos apartamos da palavra do Senhor, quando damos ouvidos às falsas doutrinas, quando nos abandonamos às superstições; quando, em suma, nos transviamos após nossos próprios planos, e não mantemos nossos pensamentos sob a autoridade da palavra do Senhor”. No grego é διεσκόρπισεν (diekóptisen) que significa espalhar, dissipar em várias direções, esbanjar, neste caso denota atitude rebelde, insubmissa e imatura. Essa mesma palavra é usada quando Cristo foi preso (“as ovelhas se dispersarão” Marcos. 14:27), nessa noite os discípulos foram dispersos em várias direções, espalharam-se como que desnorteados – não entenderam o que lhes fora dito quando andavam com Cristo, e na hora necessária a confiança foi abalada. Temo-la também mostrando a dispersão provocada pelo pecado que dispersou a humanidade de Deus e é reunida unicamente pela morte de Cristo (“andavam dispersos” João. 11:52); e ainda na dispersão que houve após a morte de Judas, o galileu, que segundo a história intitulava-se messias (“dispersos e reduzidos a nada” Atos. 5:36) – foi morto (provavelmente crucificado) pelo Império Romano que não aceitava um messias.
Em todas estas passagens citadas, a palavra dissoluto está ligada à decepção sofrida após uma decisão tomada ou uma experiência vivida. Em nenhum contexto salienta a confiança do homem, mas sempre parte de uma posição negativa (do homem), uma tomada de decisão precipitada ou resolvida, deliberada pela pressão das circunstâncias a que estava anteriormente confiada.
A decisão do moço foi em direção à queda, ao prejuízo, ao pecado. Poderíamos dizer que ele se auto-decepcionou, isto é, ele desviou a sua visão do que era bom, não confiou nas palavras e conselhos do pai e partiu segundo a sua própria razão.
PROPORÇÕES DA QUEDA
Toda decisão tomada, como a do filho pródigo, traz resultados desastrosos.
Este moço experimentou os degraus de uma queda sem precedente em sua vida. Nos primeiros degraus ele se achou nas asas da liberdade, intencionou galgar os mais altos caminhos da tão sonhada liberdade, pois a sua decisão se deu porque achou que estava preso, sem poder participar de coisas mais picantes e mais atraentes para a idade tão jovial.
Salomão falou dos perigos da pressa em várias circunstâncias da vida: em correr para o mal, em litigar ou disputar, em enriquecer, em falar diante de Deus, em irar-se (Provérbios 6;16,18; 25:8; 28:20; Eclesiastes 5:2; 7:9). O filho pródigo tinha todas estas coisas em seu caminho, o que podia ser evitado se ele tivesse ouvido a voz paternal; não soube honrar aos pais (Efésios 6:2,3). Certamente os conselhos paternos lhe advertiam (Provérbios 1; 4:1-10; 6:16-19), mas ele não deu ouvido, estava com o pé no degrau da obstinação, desejando dar o próximo passo ao degrau do egoísmo, enquanto ansiava colocar o pé no decisivo degrau da separação, para que pudesse rapidamente chegar ao pico: o degrau da sensualidade.
O convite do diabo jamais mostra as proporções da queda. Primeiramente ele enche o coração do incauto com promessas por demais irrecusáveis à carne que as anseia. São ilusórias promessas de ascensão, fantasiadas de uma falsa liberdade, alimentadas por uma visão que mais é miragem do que qualquer realidade, porém não pode ser discernida por quem deixou os ouvidos moucos para paternos conselhos exortativos (1ª Samuel 2:23-25; Provérbios 9:9-12; 13:1; 15:16,17; 25:28). O filho pródigo obstinou-se de tal forma que abraçou o egoísmo, vendo em sua frente que a principal decisão para a sonhada liberdade era a separação familiar e, dessa forma poderia ter tudo ao seu dispor: galera, festas, orgias, noitadas. Eram as efêmeras alegrias da sensualidade. Infelizmente um caminho de morte, a atração da concupiscência (Tiago 1:13-15). Salomão, inspirado pelo Espírito Santo, escrevera sobre este engano (Provérbios 14:12; 6:25).
A proporção da queda estava por vir; o pobre filho jamais pensava que suas escolhas dariam em lugares tenebrosos. Enquanto as fantasias lhe mostraram coisas coloridas, a realidade lhe reservava coisas desastrosas. Na sua mente entenebrecida e embebida pela sensualidade pensava o pobre moço que seu espírito se regozijava, porém o que estava a viver era a destruição espiritual: a fome lhe apontou aberta a porta da necessidade e infelizmente ele teve que entrar por ela; começou ele a sentir quão miserável é o degrau da humilhação (sob o comando do diabo) e que inevitavelmente o levou ao próximo degrau, o degrau da fome. Passados alguns dias ele cai em si e reconhece que a sua decisão foi desastrosa – antes ele sentia-se preso, conquanto estava livre na casa do pai; agora ele estava vivendo a tão sonhada liberdade, porém preso em seu espírito. É aqui que ele vê que todos os degraus foram pintados com falsos coloridos e falsas promessas, e na verdade nenhum deles era degrau de crescimento, mas somente de queda, que a certa altura virou em descida brusca ao abismo da solidão e do desespero: “Pois o salário do pecado é a morte” (Romanos 6:23).

Continua...