sábado, 12 de julho de 2008
FILIPENSES 4:13
“POSSO TODAS AS COISAS NAQUELE QUE ME FORTALECE”.
Apóstolo Paulo – Filipenses 4:13
Creio por convicção que nada que está escrito na Palavra de Deus é por um acaso das circunstâncias; ou como afirmações positivas (tão louvadas nesse tempo presente) para se conseguir um estado mental no qual se impregne um sentimento positivo de conforto e vitória, porém passivo de desmoronamento a qualquer momento. Todo o estudo da Palavra de Deus deve ser (a meu ver) tomado com muita seriedade e, buscado com a ajuda do Espírito Santo um entendimento que nos leve não só a compreender, mas também aceitar e viver aquilo que nos é comunicado pelo Espírito do Senhor, o que certamente conduzirá ao crescimento individual, e conduzirá à unidade do Corpo de Cristo: “[...] mantendo unido à Cabeça, do qual todo o corpo, provido e organizado pelas juntas e ligaduras, vai crescendo com o aumento concedido por Deus” (Cl. 2:19; cf. 4:11-13 e Fp. 1:6).
Sendo assim, podemos ver que há um propósito de Deus em cada acontecimento: vitórias, lutas, provações (Rm. 8:28). Dessa forma, para entendermos como Paulo chegou a tão nobre e profunda declaração se faz necessário uma pesquisa na vida do Apóstolo como também um estudo sobre como e em quais circunstâncias o evangelho chegou a Colônia de Filipos, na Macedônia, e o que cooperou para a maturação dos crentes ali.
A CIDADE DE FILIPOS
Seu nome origina-se de Filipe da Macedônia, que a conquistou dos tásios cerca do ano 300 a.C. Era rica em mineração e ouro, e ali se faziam moedas cunhadas com o nome de Filipe. Após a batalha Pidna, em 168 a.C. a cidade foi anexada pelos romanos. A partir daí passa a ser (a primeira) Colônia Romana para a qual César enviou veteranos soldados romanos e deu a todos os habitantes o título de cidadão do Império romano, o que causou grande orgulho em todo o povo (At. 16:21).
Porém, para o nosso estudo, Filipos tem uma importância bem mais elevada e de imensurável profundidade do que a anterior citada. É de grande relevância no contexto do evangelho, pois, foi a primeira cidade da Europa em que Paulo pregou o Evangelho. E isto se deu, na segunda viagem missionária, por uma visão do Espírito Santo: “Paulo teve de noite uma visão em que se apresentou um homem da Macedônia, que lhe rogava: Passa à Macedônia, e ajuda-nos [...] Filipos, a primeira cidade dessa região da Macedônia” (At. 16:9,12). É importante notar que esta visão mudou totalmente os planos de Paulo e Silas, acompanhados por Timóteo, pois a Macedônia não estava nos planos e talvez nem no coração deles para essa ou outras viagens (At. 16:6-8).
O INÍCIO DOS TRABALHOS EM FILIPOS
Em Atos capítulo 16 temos registros de como o Evangelho chegou a Filipos. Como já dissemos Paulo, Silas e Timóteo foram até a Macedônia em virtude de uma visão do Espírito Santo. Certamente acompanhava-os nesta viagem o médico Lucas, autor do livro de Atos.
O registro nos traz que estiveram alguns dias na cidade de Filipos: “Dali para Filipos, a primeira cidade dessa região da Macedônia, e é uma colônia. Estivemos alguns dias nesta cidade” (At. 16:12). Quantos dias não sabemos, mas o tempo suficiente para se travar batalhas ferrenhas contra as forças espirituais da maldade, o que lhes causou grandes perseguições e até prisão, mas que não desfaleceram. Como eles estavam exclusivamente para o trabalho do Senhor, ocuparam-se em anunciar as Boas Novas, oração e louvor (At. 16:13,16,25), o que deixa claro que não havia tempo para qualquer outra coisa, o que, se acontecesse seria um desvio da visão que salientava, em rogos, ajuda-nos. A palavra rogar significa chamar ao lado, era um clamor que denotava urgência e exigia pronto atendimento, o que houve: “Logo depois desta visão, procuramos partir para a Macedônia, concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o evangelho” (At. 16:10).
AS AFLIÇÕES DE PAULO E A SUA VISÃO ESPIRITUAL
“Pois vos foi concedido, por amor de Cristo, não somente o crer nele, como também o padecer por ele, tendo o mesmo combate que já e mim vistes e agora ouvis que é meu” (Fp. 1:29). Já vemos aqui uma marca indelével da razão do versículo em estudo (Fp. 4:13).
Paulo mostra que somente crer em Cristo é pouco para o cristão: O verbo ἐχαρίσθη (aoristo da voz passiva de χαρίxw) tem como significado “dar graciosamente; Deus nos outorgou o privilégio do sofrimento por amor a Cristo; este é o sinal mais seguro de que Ele olha por vocês com benevolência”. Somente com este versículo se derruba por terra uma série de heresias e doutrinas de homens que se tem levantado nos dias de hoje dizendo que o cristão está imune ao sofrimento; não pode passar por necessidades e (até) ousam dizer que se isto tiver acontecendo é por causa de algum pecado.
O Apóstolo só aprendeu o que aprendeu, e pode transmitir à igreja com segurança a Palavra de Deus, e ser exemplo para a Igreja porque experimentou o que lhe foi concedido por Cristo: “[...] pois todos vós fostes participantes da minha graça, tanto nas minhas prisões como na minha defesa e confirmação do evangelho. E quero irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior avanço do evangelho. De maneira que as minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais. Muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com minhas cadeias, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor” (Fp. 1:9,12-14).
Um estudo do livro de Atos leva-nos a profundas descobertas de como Paulo (e a Igreja) encarou todas as perseguições. Em nenhum momento o Apóstolo colocou em dúvida o que havia aprendido “[...] para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp. 1:21). Os mais belos louvores em toda a palavra vieram após experiências profundas de livramento ou após momentos intimidade com Deus. Revelam-nos profundamente o caráter de Deus, e o que Ele pode fazer. Não são de forma alguma declarações de efeito, positivismo ou determinação humana diante da soberania divina.
A Bíblia é riquíssima do agir de Deus em momentos de extrema exaustão humana:
1. Hagar, após um momento de angústia, é animada pelo anjo do Senhor e diz: “[...] Tu é Deus que vê, pois disse ela: agora olhei para Aquele que me vê” (Gn. 16:13);
2. Abraão após estar no monte Moriá em obediência ao Senhor diz: “[...] chamou Abraão aquele lugar de o Senhor proverá. Daí dizer-se até o dia de hoje: no monte do Senhor se proverá” (Gn. 22:14);
3. Moisés após a sua experiência com Deus no deserto de Mídia ouviu o Senhor lhe dizer: “EU O QUE SOU [...] EU SOU me enviou a vós” (Ex. 3:14);
4. Miriã, após a travessia do mar cantou: “Cantai ao Senhor, pois sumamente se exaltou, e lançou no mar, o cavalo com seu cavaleiro” (Ex. 15:21);
5. Débora após grande livramento do Senhor entoou um cântico exaltando a Deus pelo Seu grande livramento (Jz. 5);
6. Habacuque escrevendo sobre a grandeza de Deus, revela que mesmo em profundas crises ou momentos de desespero pode dizer pela fé: “[...] o Senhor é a minha força” (Hc. 3:17-19)
Poderíamos citar numerosas passagens onde se vê claramente a mão poderosa de Deus operando a favor dos seus filhos. Vemos em cada versículo a revelação da grandeza de Deus.
Dessa forma podemos entender porque recebemos graciosamente o padecer por Cristo. Tudo aquilo que o Senhor opera em nós é para crescimento, para aprofundamento dos alicerces da nossa vida espiritual na Rocha Perfeita. O que quis mostrar com os exemplos acima é que não haveria tais registros se Deus não tivesse enviado as provações, as dificuldades, os inimigos, as lágrimas. É importante notar que o operar de Deus vai além do nosso entendimento racional, Ele sempre quer elevar a nossa confiança a níveis superiores e em nós glorificar o Seu nome (I Pe. 1:6,7). Tiago nos revela pelo Espírito Santo que a prova da nossa fé passa por um processo de desenvolvimento nos conduzindo à maturidade a tal ponto de não termos falta coisa alguma (Tg. 1:2-4).
As provações são para o aperfeiçoamento do caráter do cristão. Quando entendidos pela perspectiva do Espírito Santo – isso em atitude de oração e dependência – trazem resultados que vão além do que podemos imaginar. O que o Senhor opera em nós sempre alcança aos outros membros do Corpo de Cristo (Ef. 4:16).
A IGREJA DE FILIPOS
A igreja de Filipos foi amadurecendo a medida que teve experiências com Deus através das provações. O Espírito Santo havia iniciado neles uma obra de maturação que culminaria no dia Cristo. Ao lermos a seqüência da carta veremos que esta obra passava pelos caminhos da provação, e que havia iniciado ainda lá na segunda viagem missionária; ainda nos primeiros passos da fé já presenciaram como era a vida com Cristo: crer nEle e padecer por Ele.
Paulo mostra-lhes que havia muitos adversários, os quais deveriam ser enfrentados simplesmente portando-se conforme o Evangelho. Esse portar é uma exigência que se refere ao amor, discernimento, frutos de justiça, firmeza e unidade em espírito, ânimo e fé no evangelho; veja que não é um enfretamento, mas sim, uma posição firme em Cristo, e Paulo reforça seu conselho dizendo que eles já haviam visto estas coisas em seu combate.
Paulo procura comunicar-lhes a supremacia do senhorio de Cristo, mostrando quem Ele era e como se portou para conduzir os pecadores à posição de filhos legítimos de Deus, e que, devido a isso tinham eles responsabilidades com relação ao processo do crescimento espiritual.
A palavra efetuar (2:12) é usada para mostrar aos filipenses que eles tinham responsabilidades com relação ao desenvolvimento da salvação na vida de cada um e da própria igreja; é uma palavra que salienta que toda ação gera (produz) um resultado (II Co. 7:10; 9:11), o mesmo pensamento revelado é reforçado por Tiago: “Pelo que, despojando-vos de toda a impureza e de todo o vestígio do mal, recebei com mansidão a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar as vossas almas” (Tg. 1:21). O Apóstolo mostra que os filipenses deveriam ter uma atitude baseada no exemplo de Cristo, do que Ele era e fez: esvaziamento (que nos fala de renúncia), serviço (que fala dEle como servo), obediência e humilhação (morte de cruz – renúncia).
O pensamento amplia-se a medida que Paulo comunica-lhes o conhecimento de Cristo, que vale muito mais que confiar na carne, isto é, em benefícios que poderiam ter devido a posição alcançada ou de nascimento, mas que se desfaz diante da fé genuína em Cristo (Fp. 3:1-11); apontando-lhes a pessoa de Cristo Jesus como alvo perfeito, o qual deve ser buscado e alcançado por todo aquele que um dia abraçou a fé.
Paulo os aconselha que sejam seus imitadores e façam o que tinham nele visto, e em 4:14 diz que eles tomaram parte, isto é, foram co-participantes, compartilharam das aflições do Apóstolo, o que nos mostra que a igreja entendeu claramente o que o Espírito Santo lhes comunicou por meio de Paulo, e que entenderam bem que o padecer por Cristo produz eterno peso de glória, acima de toda a comparação, é o que podemos ler no v.19 “E o meu Deus suprirá todas as vossas necessidades segundo a Sua gloriosa riqueza em Cristo Jesus”.
Pelos ensinos e revelações do Espírito Santo à Igreja de Filipos, posso ver que era uma igreja que pôde ver Paulo e Timóteo realmente como servos de Cristo Jesus (Fp. 1:1), e que não somente os escritos moldaram a vida deles em Cristo, mas também o exemplo visto em Paulo, Timóteo e Epafrodito. Entenderam tenazmente que aquilo que foi escrito era o que estes homens tinham vivido, e que tanto o regozijar como o sofrer por Cristo levava aos mais excelentes momentos incomparáveis e eternos em glória.
O ALCANDE DA DECLARAÇÃO PAULINA
A declaração paulina “posso todas as coisas naquele que me fortalece” não foi simplesmente um pensamento que ‘caiu do céu’ ou algo dito num momento de elevo poético. De forma alguma. Paulo diz depois de muitas cadeias, açoites, perseguições, traições, frio, fome, sede, fartura, necessidade, abandono. Creio que este versículo terá o mesmo efeito na nossa vida se deixarmos o trabalhar do Espírito Santo em nós, nos levar pelos mesmos caminhos os quais Paulo (e tantos outros) passou, e que antes dele, Cristo já havia passado “Porque naquilo que Ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados” (Hb. 2:18; ver I Co. 11:1; Fp. 1:6).
Deus não quer que simplesmente decoremos alguns versículos que achamos ‘bonitos, interessantes’, mas Ele quer que a Palavra tenha efeito completo em nós, realmente produza fé em nós, amadureça-nos, levando a comunhão íntima com o Espírito Santo, e seja abundante na vida do cristão (Cl. 3:16). E esse caminho não é tão fácil assim, passa pelos escarpados caminhos das lágrimas (Rm. 5:1-5). O capítulo 4 de II Coríntios nos traz uma profunda revelação das provações e, vale a pena transcrever os últimos versículos: “Por isso não desfalecemos. Ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia. Pois a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda a comparação. Portanto, nós não atentamos nas coisas que se vêem, mas nas que não se vêem. Pois as que se vêem são temporais, e as que não se vêem são eternas” (II Co. 4:16-18).
Quando falo em alcance da declaração paulina, me reporto também as experiências dos irmãos do Antigo Testamento. Eles também foram forjados na fornalha da aflição. Passaram sede, fome, enfrentaram inimigos ferozes, estiveram escondidos em cavernas, foram execrados, humilhados, desprezados, mas em meio a tudo isto ele puderam cantar hinos de vitória, veja o que disse Jó: “Eu sei que o meu Redentor vive, e por fim se levantará sobre a terra. [...] vê-lo-ei por mim mesmo, com os meus próprios olhos. Como o meu coração anseia dentro de mim” (Jó 19:25,27; cf. 42:5).
Hebreus 11 descreve (com exemplos) a importância de nos submetermos ao Senhorio de Cristo. A verdade é que Deus tem revelado coisas profundas, no cadinho do sofrimento, através da vida de seus filhos. Foi na confiança, a fé firmada em Deus, que nas mais duras provas e circunstâncias adversas houve sacrifícios mais excelentes; trasladação; Noé herdou a justiça; Abraão peregrinou por terra estranha sem saber para onde ia e confiou que das cinzas Deus ressuscitaria Isaque; Sara foi rejuvenescida para ser mãe; desejavam uma pátria melhor; Moisés foi escondido e quando crescido recusou a dinastia de Faraó, veja o que diz o texto: “Teve por maiores riquezas o opróbrio de Cristo do que os tesouros do Egito, porque tinha em vista a recompensa” (Hb. 11:26 – grifo meu); atravessaram o mar Vermelho; derrubaram muros; da fraqueza tiraram forças; escaparam do fogo; tornaram-se poderosos na batalha. A Palavra de Deus é tremenda, e creio que estes também poderiam dizer “posso todas as coisas naquele que me fortalece”, pois viveram a cada momento na dependência dEle!
A declaração paulina tem um alcance para nós nos dias de hoje, mas não simplesmente para dizermos o que ele disse, mas vivermos de tal forma e podermos dizer com conhecimento e experiências em Cristo dadas pelo Espírito Santo que realmente é Ele que nos fortalece. Sem passarmos por (duras e marcantes) provas não poderemos dizer o que disse o Apóstolo.
Nessa conclusão vale a pena citar o que dize A.W. Tozer: "Deus não pode usar ao máximo uma pessoa enquanto esta não for profundamente ferida".
É necessário “não somente o crer nele, como também o padecer por ele”, para depois, com ousadia no Espírito Santo dizermos “Posso todas as coisas Naquele que me fortalece”.
Em Cristo,
Adriano Wink Fernandes
awinkfernandes@terra.com.br
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