quarta-feira, 27 de maio de 2009

COMO MUDOU O CULTO


Quando eu era mais moço lembro-me que tínhamos o culto de doutrina, ou culto de ensino. Era na terça-feira, e a igreja se reunia unicamente para um momento de oração e outro momento para estudo ministrado pelo pastor. Para dar início ao culto era cantado unicamente um hino da Harpa Cristã. Foi ali e na Escola Dominical que fui me alicerçando na Rocha.
Naquele tempo não havia em qualquer culto, literalmente não havia, lugar para animar o povo; não havia reteté; pregador 'canela de fogo' não exisita; não rolávamos no chão 'cheios do espírito'; não tínhamos músicas para animar o povo ou tornar o convite mais emocionante ou espiritual; não precisávamos 'cair no espírito' para provar que o Espírito estava presente; ninguém soprava no microfone ou movia o paletó sobre ou em direção dos presentes; não se derramava óleo sobre o suposto local doente; não se 'entrevistava' o demônio para confirmar que era ele mesmo, e o que ele queria fazer com a pessoa; etc...
O pregador era um Profeta e verdadeiramente pregava a Palavra e o povo respondia voluntariamente, o Espírito se manifestava e havia liberdade porque Ele estava presente (2 Co. 3:17). Não havia intermináveis cânticos e as incessantes ordens do ‘ministro do louvor’ (pois não havia ministro de louvor) para que a igreja liberasse uma palavra, profetizasse sobre o irmão ao lado. Havia equilíbrio em todos os acontecimentos do culto, tudo dentro direção do Espírito Santo.
Era comum a pregação ou o louvor ser educadamente interrompido por um irmão ou irmã que era ‘tomado (a)’ pelo Espírito Santo. Levantava-se sem gritos e alardes e falava em voz suave e clara o que o Espírito ordenava – toda igreja silenciava e ouvia reverentemente. Após, ‘caia’ como que uma suave brisa sobre a igreja e havia renovo, quebrantamento, e genuínas manifestações do Espírito Santo. E o pregador continuava sua pregação. Era um culto genuinamente espiritual.
Lembro-me que tempos mais tarde, numa das tardes da semana, iniciou-se o culto da vitória. Em poucos dias estavam ungindo pessoas possessas de demônios; ungindo ou orando por carteira de trabalho; orando por peças de roupas; orando por fotos; fazendo novenas ou a campanha das sete semanas; correntes. Assim, tantas outras inovações que até então desconhecíamos totalmente, entraram pela porta da frente da igreja e sem escrúpulo algum foi recebida nos altares - eram 'mistérios de Deus'. Não podiam ser julgados - Deuteronômio 29:29 era o versículo chave para muitos não oporem-se a tais modismos.
Até então éramos pentecostais bíblicos, centrados na Palavra, não íamos além do que estava escrito (1 Co. 4:6). Mas parece que estávamos entrando no caminho dos crentes da Galácia, e sendo inquietados (Gl. 1:6,7) – infelizmente não tínhamos um Paulo para nos acordar, e outro evangelho foi bem vindo. Inquietados pelo pseudopentecostalismo que veio com uma onda de inovações: novas revelações; modismos; sopro do espírito; unção do paletó; cair no espírito; teologia da prosperidade e tantas experiências (ditas espirituais) sendo colocadas acima da Palavra. Éramos bereanos, mas começávamos abandonar deliberadamente e sem escrúpulo algum a Palavra - "a Escritura divinamente inspirada e proveitosa" (2 Tm. 3:16,17); paramos de conferir se as coisas eram realmente assim, e não comparávamos mais as coisas espirituais com as espirituais (At. 17:11; 1 Co. 2:13).
A igreja Pentecostal, no Brasil, vive hoje um momento crítico basicamente por se alienar do estudo da Palavra. Alguns teólogos definem a igreja brasileira como “teologicamente fraca”. Há mais interesse em milagres, movimentos, louvorzão, 'adoração', bênçãos e mais bênçãos, mas pouco há na igreja estudos bíblicos (no sentido lato da palavra) – exceto na Escola Dominical. Não falo de momentos especiais para estudo. Refiro-me ao dia a dia da igreja, aos cultos normais da semana; deveriam ser mais regados a mensagens cristocêntricas, expositivas, bibliocêntricas, para que o povo fosse edificado e o objetivo de Cristo para a Igreja fosse plenamente alcançado (Ef. 4:11-15).
Tenho escutado muita mensagem que fico pensando porque o pregador ‘pregou’. Pois não há uma definição na ‘pregação’, não se entende o que o pregador quer dizer, vai sendo preenchida com exemplos daqui e dali e nada que confirme a palavra pregada com a Palavra escrita. Muitas vezes parece que o momento da pregação tem que ser preenchido com qualquer coisa. O povo, no momento do louvor, foi “elevado ao Santo dos Santos” que alguns dizem: por mim, poderíamos dizer o Amém deste culto, pois já estou satisfeito. Amém igreja?! (imagine o pregador levantar-se para pregar e dizer isso?! Força de expressão? Vamos parar de forçar tanto assim!).
O povo recebe ordem a todo o momento para fazer isso ou aquilo, dizer isso ou aquilo; isso somado à confissão do ‘humilde’ pregador: não sei porque estou falando isso, “mas Deus sabe”, Ele me manda falar, e eu falo; algo tem que ser feito para mexer com o povo, aí entra todas estas inovações, modismos, e tantas coisas que temos visto na igreja: dê glória; dê aleluia; cutuque o irmão ao seu lado; batam fortes palmas para Jesus... mais forte; tem fogo aí? Hoje Deus vai falar; tem um anjo de fogo passeando aqui; etc.
Tempos atrás fui ministrar um estudo sobre o Fruto do Espírito. Na segunda noite havia um casal cantando, aqueles bem ‘despertados, cheios de unção’. Como não tiveram oportunidade para apresentar-se e o estudo não fazia de jeito nenhum o tipo enfogueirado deles, certa altura ele conversou com a sua esposa: ele não vai parar? Já não aguentavam mais, o culto não estava de fogo, o povo não estava se sacudindo para todo o lado, não havia reteté.
Se os pastores e pregadores se dessem ao nobre trabalho de preparar estudos centralizados na Palavra, os crentes seriam mais maduros, edificados, fortalecidos no homem interior (Ef. 3:16). Seriam cheios do Espírito Santo, mas não aceitariam pregadores da nova unção, do diz-isso-ou-aquilo, do profetize agora, do positivismo, não precisariam cultos da vitória, da restituição, do milagre, pois todos saberiam que não é numa campanha de semanas ou dias que a vitória será alcançada. Desejariam viver e andar no Espírito (Gl. 5:16,25).
Em uma Escola Dominical levantou-se uma discussão sobre estes modismos no culto e sobre o culto da vitória, da restituição, da bênção, do milagre. É quase que unânime a posição dos irmãos leigos que algo está errado. Por mais que o professor não tenha se pronunciado o desejado na questão (digo desejado no sentido de esclarecer as coisas dentro da Palavra (já que era uma Escola Dominical)), pude sentir a interrogação que paira sobre a cabeça da maioria dos irmãos com relação a estes modismos: algo está errado e precisa ser mudado!
Lembremos que Israel foi repreendido pelo Senhor porque estava sendo destruído por falta de conhecimento: “O meu povo é destruído porque lhe falta o conhecimento. Porque tu rejeitaste o conhecimento [...]. O povo que não tem entendimento será transtornado” (Os. 4:6,14 – grifo meu – cf. Jo. 5:39; 2 Pe. 3:17,18; 2 Co. 11:3).
Ainda creio que voltaremos ao culto como no princípio. Ainda creio que teremos o culto conforme descrito em 1ª Coríntios capítulo 14. Os pregadores do reteté, da profetada, dos diz-isso-ou-aquilo não terão mais espaço. Ainda oro, creio e espero!

Em Cristo
Adriano Wink Fernandes

2 comentários:

WladimirCN disse...

...é por causa de tudo isso que vc escreveu, que fico cada vez mais na duvida: devo participar de igrejas assim? Poxa tudo que eu quero é fazer a vontade de Deus! De pregar o verdadeiro evangelho! Tenho que realmente congregar em uma igreja para fazer essas coisas?
SHALOM ADONAI..!
wladi2009@rocketmail.com

Anônimo disse...

... Penso igualmente, as pessoas hoje, tem buscado os dons espirituais não para a edificação da igreja, para a edificação de sua imagem como crente, para que os irmãos possam vê o quanto ele é "espiritual". A igreja vai morrendo aos poucos.