quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O DIA DO SENHOR E O FERVOR DO ESPÍRITO SANTO

Tempos atrás a igreja evangélica tinha uma marca distintiva que era um dia dedicado como O Dia do Senhor. Mas isso se perdeu com o passar do tempo. Nesse tempo colocávamos a melhor roupa, a roupa de domingo; a família toda ia à igreja; o livro de capa preta, a Bíblia, não faltava. Estávamos no Dia do Senhor, e este dia era dever [senão uma obrigação] estar na igreja.

Claro que nesse tempo pretérito não tínhamos tantas atividades na igreja como temos hoje. Nós assembleianos tínhamos os departamentos do círculo de oração, de jovens e a Escola Bíblica Dominical. Eram esses. E hoje quantos temos? Além das reuniões semanais. Acredito que isso seja bastante preponderante, e tem pesado bastante no costume cristão com relação ao Dia do Senhor, um dia de santificação ao Senhor.

Outra questão importante é que hoje as opções de lazer são inumeráveis. E, infelizmente, os cristãos estão bastante absorvidos pelo excesso de lazer, de prazer, de satisfação pessoal. Isto é produto do Iluminismo, pois tem colocado o homem no centro de todas as coisas. Portanto, entendo que precisamos voltar a analisar todas as coisas à luz da Palavra de Deus. Fazendo isso chegaríamos a conclusão que o hedonismo não pertence ao padrão bíblico para a vida cristã.

Outro ponto que tem pesado bastante é o entendimento que a nossa geração tem a respeito de Deus. Essa falta tem levado a uma deliberada ignorância sobre o conhecimento de Deus, e isso é crítico na igreja hoje. Ian Hamilton escreve que

"O Dia do Senhor é um testemunho da grande benignidade de Deus para com Seu povo e nos dá um tempo divinamente apontado por Deus para que nós O adoremos e Deus mesmo nos dá o foco apropriado em relação à Sua adoração".

Podemos argumentar que estamos bastante envolvidos em cultos, reuniões para discutir a obra, atividades de departamentos, congressos, viagens, retiros, projetos diversos etc.; sete dias semanais tem sido pouco diante de tantos compromissos, e que isto é muito mais do que um dia específico para adoração. Estamos 100% para Deus. Mas todas estas atividades tem nos levado para mais perto de Deus, nos proporcionado comunhão mais íntima com Espírito Santo e com os irmãos [a koynonia bíblica], ou simplesmente estamos ocupando nosso tempo com atividades religiosas, impondo sobre nós um desenfreado ativismo? Entendo que devemos pensar mais biblicamente sobre isso.

Diante do exposto acima e mais algumas questões que podem ser ventiladas poderíamos voltar a pensar mais demoradamente sobre o Dia do Senhor. Temos uma divergência doutrinária com os sabatistas (Adventistas do Sétimo Dia) por causa da doutrina de Ellen Gould White (o espírito de profecia) relacionada ao sábado. Mas na verdade eles não guardam o sábado como defendem, uma análise bíblica, ainda que superficial, mostrará isso. O argumento adventista para guarda do sábado não resiste a uma análise doutrinária. A Bíblia é o fundamento. Mas independente disso a igreja evangélica brasileira precisa repensar algumas coisas que foram fundamentais no seu crescimento, firmeza, e consistência do modus vivendi tempos atrás. Compreendo que a igreja não era mais fervorosa, mais dinâmica, simplesmente porque levava muito a sério o Dia do Senhor, o domingo.

Vejo que é impossível voltar a ter o Dia do Senhor (o domingo) como tínhamos tempos atrás. Várias razões impedem de todos os crentes, no domingo, pararem com suas atividades e compromissos e se reunir para todos juntos estarem em adoração ao Senhor, como a igreja fazia tempos atrás.

Sei que estamos no mundo, e que o contexto social e cultural tem grande influência sobre todos, inclusive sobre a igreja e a sua dinâmica de ação. Mas a Palavra de Deus sempre tem a orientação, a exortação, a doutrina fundamental para a igreja. Hoje não estamos tão distante somente de santificarmos o Dia do Senhor, mas também do fervor do Espírito Santo. A igreja primitiva tinha na verdade um compromisso de vida de serviço.

No meu entendimento a igreja em Atos é a igreja modelo para qualquer época. E o historiador Lucas registra como era a igreja no seu nascedouro.

Atos 2: 46 E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração, 47 louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos.
Atos 5: 42 E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar, e de anunciar a Jesus, o Cristo.

Vemos que os irmãos aqui eram muito ‘igrejeiros’, estavam "todos os dias no templo", e como se isso não bastasse estavam "todos os dias, no templo e de casa em casa".

Paulo foi um Apóstolo profundamente preocupado com relação a vida da igreja. Ele diz "não cessei noite e dia de admoestar com lágrimas a cada um de vós", claro que Paulo não era um super apóstolo que não precisava dormir, mas que não importava a hora, de dia ou de noite, ele estava sempre disposto a instruir a igreja.

A atitude da igreja primitiva se espelha na atitude do próprio Cristo, pois disse

"A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e completar a sua obra." (João 4:34)

Em relação a trabalho, não estamos tão distantes dos relatos históricos acima. Estamos cheios de atividades, mas nos falta o fervor do Espírito Santo, e isso eles tinham em abundância. Nossos resultados estão medíocres, não porque não estamos fazendo alguma coisa, mas porque o muito que fazemos está mais em nossa dependência do que na total dependência do Espírito Santo. Paulo dependia totalmente do poder de Deus e da virtude do Espírito Santo, e isso fazia toda a diferença (Romanos 1:16-17; 1ª Coríntios 1:18; 2:1-5; 1ª Tessalonicenses 1:4-5 Cf. 1ª João 1:1-5).


Estamos como a maioria das igrejas da Ásia para as quais João escreveu. Por exemplo, a igreja de Éfeso estava cheia de obras, trabalho e perseverança, e a de Tiatira tinha as últimas obras mais numerosas que as primeiras. Isso mostra a intensa atividade destas igrejas. Hoje Temos riqueza, temos fama, mas toleramos uma série de coisas que a palavra de Deus desaprova, e somado a isso, não estamos com os ouvidos para ouvir o que o Espírito diz às igrejas. É isso é fundamental!


O que a igreja precisa hoje, diante de tantas atividades, compromissos e a desenfreada correria que esse tempo impõe, é buscar o necessário fervor do Espírito Santo para viver com Deus e para Deus num fiel compromisso de serviço.

Pr. Adriano Fernandes
Blumenau - SC

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