sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

O PODER DE UMA PALAVRA


  • "Como o pássaro no seu vaguear, como a andorinha no seu voar, assim a maldição sem causa não encontra pouso" (Provérbios 22:6)
Abaixo reproduzo frases que estão em voga de tempos para cá, sendo inseridas como fundamentos teológicos (para fé e prática), ou verdades espirituais descobertas a pouco.

"Profetize bênçãos"
"Não fale palavras negativas"
"Não pronuncie o nome 'Satanás'"
"Profetize um ministério sobre teu filho"
"Declare somente coisas boias sobre o teu cônjuge"
"Sobre a tua vida vou profetizar, nenhuma maldição..."
"Declare que o Brasil é do Senhor Jesus"

Certamente você já ouviu uma dessas frases pelo menos uma vez. Ou tenha dito alguma vez ao lado de alguém, e foi repreendido por estar atraindo coisas negativas, ou elogiado por declarar coisas boas.

Estamos vivendo num tempo em que palavras ganharam tônica até então não conhecida. Palavras liberadas tem poder além do que pensamos; somos profetas, então seja um profeta do bem.
Claro que o crente deve observar a exortação:

  • Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que seja boa para a necessária edificação, a fim de que ministre graça aos que a ouvem" (Efésios 4:29).
Mas atribuir, simplesmente às palavras, um poder de bênção ou maldição somente por ter declarado, é no mínimo infantilidade bíblica, e em termos maiores uma afronta à Palavra.

Dias desses uma senhora falava sobre o poder da palavra. Dizia ela que comentava sobre uma pessoa, e por ser essa pessoa não muito agradável, ao pronunciar o seu nome, outra lhe diz: "não diga esse nome, pois a palavra tem poder, ele vai aparecer". Para surpresa, o que acontece? Em poucos minutos a pessoa estava ao seu lado. Arremata ela que realmente a palavra tem muito poder.

Atitudes como essa com pessoas não cristãs é compreensível. Mas infelizmente essa moda tem entrado na igreja, e pior, nem Jesus nem os Apóstolos nem os Reformadores se deram conta dessa verdade sobre o poder das palavras; assim tem sido inserida na nossa liturgia e prática, mas está se tornando algo insuportável, é uma verdadeira "feitiçaria pentecostal".

O problema dessas coisas é que tanto Deus quanto a autoridade e a centralidade da Palavra de Deus está de lado, ou no mínimo, em segundo plano. O sincretismo enrustido que há nessas coisas é imensurável. A Palavra de Deus [a Bíblia] tem sido suplantada por série de de declarações e suposições. Infelizmente nossa teologia prática tem sido molada por uma hinologia sincretista, piscologizada, positivista, teologicamente equivocada, e não por uma Teologia bíblica, cristocêntrica. Por isso que há tantos em crise existencial dentro das igrejas evangélicas. Agarraram-se a tantas possibilidades, e uma a uma tem falhado, que não sabem mais o que fazer. Perguntam o que tem feito de errado, visto terem todo o cuidado com as regras, e as coisas continuam de mal a pior.

NOVO TESTAMENTO: NEGATIVO DEMAIS?
Numa análise ainda que superficial, chegaremos a triste conclusão que a mensagem do Novo Testamento atrai sobre os crentes coisas negativas, sendo a mensagem mais negativa possível. Vejamos:

- Jesus disse: "Também vos perseguirão a vós (João 15:20). "Bem-aventurados os que são perseguidos" (Mateus 5:10);
- Paulo escreveu: "Em tudo somos atribulados, angustiados, perplexos, perseguidos, desamparados, abatidos, trazendo sempre no corpo o morrer" (2ª Coríntios 4:8-10). "Deus nos pôs por últimos, condenados à morte, espetáculos do mundo" (1ª Coríntios 4:9);
- O Espírito Santo: "O Espírito Santo me testifica que me esperam prisões e tribulações" (Atos 20:23).

PRECISAMOS DE UMA TEOLOGIA BÍBLICA!
  • "[...] ensinando-os a observar todas as coisas que Eu [Jesus] vos tenho mandado" (Mateus 28:20)
O propósito de Deus é que a Sua Palavra seja sempre o padrão norteador para o Seu povo (Êxodo 34:27 Cf. Gálatas 1:8-9). Cristo pensou uma Igreja fundamentada nEle (Mateus 16:18). O ato de fazer discípulos tem como fundamento o ensino puramente bíblico. Para o crente não existe ideia qualquer que suplante a Verdade. A recomendação de Jesus é simples: "Ensinando-os o que EU vos tenho mandado".
O ensino de Cristo não é uma filosofia nem uma ideologia nem incompleto que precise de mais alguma coisa fora dele. A verdadeira fé se fundamenta em Cristo e na Sua Palavra. E isso basta. A fé não pode ser cega, irracional, veja que Jesus diz: ensinado-os a observar.
Tudo aquilo que, espiritualmente, o pecador aprende no mundo em sua velha vida, deve ser deixado de lado, e o que passa a lhe dirigir a partir do arrependimento e conversão é o Espírito Santo por meio da Palavra viva. Paulo disse eis que TUDO se fez novo. Os convertidos de Éfeso rasgaram seu livros, pois, depois de iluminados e transformados pela Palavra, não havia mais valor algum naqueles ensinos (Atos 19:29 Cf. Salmo 119:105).
O que Cristo tem mandado está tudo o que Ele ensinou em Seu ministério terreno, como também toda a revelação bíblica, ou seja, toda a Palavra, toda a Escritura (2ª Timóteo 3:16; 2ª Pedro 1:20-21).

PRECISAMOS CRER EM "TODA A ESCRITURA"
  • "Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça" (2ª Timóteo 3:16)
Não existe nada fora da Escritura que pode nos instruir com relação à Teologia e prática da vida cristã. A Palavra de Deus é suficiente, é o fundamento inalterável. Sonhos, visões, experiências, profecias, inovações, enfim, nada está acima ou a par da Palavra em termos de inspiração e para proveito. Todas essas inovações que vimos hoje, e que estão tão entrelaçadas nas igrejas, tem vindo de fora, não da Palavra. Tem se sacrificado a Escritura divinamente inspirada no altar das inovações e da satisfação pessoal.

Toda a Escritura é inspirada e proveitosa não para ser usada conforme o bel prazer do homem, mas para operar no homem o propósito de Deus. Precisamos ver a Escritura a partir de Deus para nós, e não a partir do homem para Deus. A Escritura deve ser vista e entendida a partir dela mesma, e não a partir de experiências pessoais, necessidades e conjecturas.

Os de Beréia confrontavam o que ouviam na pregação sobre as Escrituras com a própria Escritura e não com as filosofias gregas e sincretismos religiosos da época: "Examinando diariamente as Escrituras para ver se estas coisas eram assim" (Atos 17:11).

A OBEDIÊNCIA ANTECEDE A BÊNÇÃO - NÃO INVERTA A ORDEM!
A natureza caída não tem o temor bíblico. Naturalmente o homem quer ter um 'relacionamento' com Deus por Ele ser um "ser superior". Não adianta, dizem, Ele é o "cara" lá de cima. Isso não é relacionamento, é medo, é covardia. Evita-se arrependimento, renúncia, conversão, confissão. Esses verbos carregam muita negatividade.

Jesus tinha multidões que 'fielmente' O seguiam, mas a 'fidelidade' era motivada pelas benesses temporárias e não pela mensagem de Jesus os chamando ao arrependimento, ao relacionamento com o Pai. Quando Jesus as confronta, a única coisa de que se arrependem é de que para seguí-lo teriam que se arrepender dos seus pescados, e se converterem a Deus (João 6:25ss).

Hoje as pessoas estão sendo incentivadas a profetizarem bençãos sobre bençãos para suas vidas, família, emprego, negócios, planos, desejos, e assim por diante. A lista é infinita e sempre se aceita mais alguma coisa, desde que seja positiva. São declarações proféticas dentro das igrejas, de ímpio para ímpio, de crente sobre o ímpio, e pasmem!, de ímpio sobre crentes. Basta cantar, basta declarar, basta dizer profeticamente algo positivo que a coisa está garantida. E se dois concordarem já é bom, mas se todos reunidos entrarem num acordo... não tem como não dar certo! Quanta "macumba pentecostal".

O problema dessas profecias ou declarações é que o que pesa é poder da palavra, da declaração humana, e não aquilo que Deus diz, por mais que se esteja dizendo palavras bíblicas. Denominamos um culto de vitória, de milagre, do impossível, das causas perdidas, e o mesmo gira em torno do nome. É como se pudéssemos colocar Deus contra a parede, ou criar uma agenda para o Espírito Santo.


A obediência sempre foi fundamental no relacionamento com Deus. A obediência está atrelada ao reconhecimento de quem Deus É: o Senhor DeusO primeiro pecado teve pano de fundo a desobediência. As bênçãos e maldições descritas em Deuteronômio estavam subordinadas ao ouvir, guardar e obedecer os preceitos de Deus (Deuteronômio 28; 29:9-15). Não estavam atreladas à declarações vazias e antropocêntricas, ou por merecimento.

A pregação neotestamentária nunca iniciou a partir da necessidade humana,  antes revelou a necessidade do homem caído. O chamado de Deus é para o arrependimento, a renúncia, a conversão - essa é a mensagem do Evangelho (Mateus 3:1; 4:17;  1ª Coríntios 1:22-24; Romanos 1:16-17) -. Ela é tão negativa que gera tristeza (2ª Coríntios 7:10).

Acredito que não existe coisa mais negativa do que negar-se a si mesmo e tomar uma cruz (símbolo de morte), mas é o cerne fundamental para o discípulo de Cristo: "Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me" (Mateus 16:24).

Jesus era  muito negativo!

Talvez você pergunte: então posso falar o que eu quiser, a hora que eu quiser, e como eu quiser? A resposta é um sonoro NÃO!

No Salmo 119:6 lemos:

"NÃO FICAREI CONFUNDIDO, ATENTANDO PARA OS TEUS MANDAMENTOS"
O discípulo de Cristo não é um positivista no mundo. Toda hora declarando bênçãos sobre quem quiser, e sobre o que quiser, e como quiser. Também não tem a sua língua subordinada a si mesmo, mas está sob o domínio do Espírito Santo. Porém, a força da benção não está no que digo ou declaro ou profetizo, ou seja, não está em mim. Não é porque canto "profetizo que nenhuma maldição te alcançará", ou "profetizo sobre você a cura", ou "profetizo sobre todos muitas bençãos", que isso acontecerá como estou dizendo. Isto tem gerado uma série de confusões, pois não importa em que creio, e como creio, posso liberar bênçãos somente com uma palavra. Qualquer um pode ser o "gênio gospel da lâmpada", independente de como crê, basta declarar.

O discípulo de Cristo não é um positivista, mas alguém que foi transformado pelo poder do Evangelho por obra do Espírito Santo e reconhece o poder renovador da Palavra, uma necessidade diária em sua vida. O discípulo de Cristo tem um linguajar abençoador não porque a sua palavra tem poder, mas porque a Palavra de Deus vivificada pelo Espírito Santo em sua vida é fonte que jorra para a vida eterna (João 4:14 Cf. Provérbios 15:2,7). Ele não usa a palavra para benefícios pessoais, mas glorifica a Deus na sua vida através da palavra.
  • "Não saia da vossa boa nenhuma palavra torpe, mas só a que seja boa para a necessária edificação, a fim de que ministre graça aos que a ouvem" (Efésios 4:29)
O texto acima não é um mantra, muito menos um texto mágico. Não é uma exortação ao crente e ao ímpio, uma possibilidade a todos. Os versículos anteriores mostram que essa exortação paulina é para aqueles que despojaram-se do velho homem, do procedimento anterior, que se corrompe pelas concupiscências do engano [...] foram criados em Cristo Jesus em verdadeira justiça e santidade, portanto quem já foi criado em Cristo Jesus, o mínimo que se espera é que tenha um caráter sob o domínio do Espírito Santo, e que a sua língua seja usada para glorificação do nome de Cristo.
  • "Porventura a fonte deita da mesma abertura água doce e água amargosa? Meus irmãos, pode acaso uma figueira produzir azeitonas, ou uma videira figos? Nem tampouco pode uma fonte de água salgada dar água doce." (Tiago 3:11-12)
O discípulo de Cristo não fica usando palavra torpes, amaldiçoadoras, sobre o cônjuge, filhos, emprego, negócios; ele não age sob ira e cólera, descontroladamente, não porque há poder em si mesmo, mas porque seu coração foi transformado e tem guardado os pensamentos e o coração em Cristo Jesus (Filipenses 4:7). Veja que a suficiência e o poder está em Cristo e não em nós.

Às vezes há necessidade de se usar palavras fortes, pesadas para poder levar alguém a um correto entendimento da fé e da vida com Deus.
  • "já julguei, como se estivesse presente, aquele que cometeu este ultraje. Em nome de nosso Senhor Jesus, congregados vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus, seja entregue a Satanás para destruição da carne" (1ª Coríntios 5:3-5)
O discípulo de Cristo entende que não é ele que tem que estar paranoicamente se auto policiando a todo o momento para não atrair coisas negativas (como que se tudo o que não produz risos, é negativo), mas crê que a sua vida, uma vez escondida com Cristo em Deus, o próprio Deus envia sobre ele provações e dificuldade pelas quais opera em seu caráter para crescimento espiritual. Sabe também que, por ser discípulo de Cristo, isso por si só já  é suficiente para fazê-lo enfrentar extremas dificuldades, perseguições.
Sobre Saulo, Jesus diz (Atos 9:26): "pois eu lhe mostrarei quanto lhe cumpre padecer pelo meu nome."
Aos discípulos diz o Mestre (João 15:20): "Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós [...]"
- Diz o irmão Tiago (1:2-4): "Meus irmãos, tende por motivo de grande gozo o passardes por várias provações, sabendo que a aprovação da vossa fé produz a perseverança; e a perseverança tenha a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, não faltando em coisa alguma."
O irmão Paulo escreveu (Romanos 5:2-5): "[...] e gloriemo-nos na esperança da glória de Deus. E não somente isso, mas também gloriemo-nos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a perseverança, e a perseverança a experiência, e a experiência a esperança; e a esperança não desaponta, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado."

CONCLUSÃO
Não viva numa paranoia espiritual. A Palavra de Deus está ao nosso alcance para ser lida, estudada, pesquisada, e não nos deixa confundidos. Se você é um discípulo de Cristo, não fique questionando o porquê disso ou daquilo; não pense que as tuas palavras tem um poder imensurável; não pense que basta uma palavra positiva para viver positivamente, ou uma negativa pra tudo descambar. A vida do discípulo é pautada pela Verdade.
Viva como um servo de Deus, dobrando-se diante do Eterno, aprendendo do Espírito Santo a ponto de poder viver esta verdade paulina em sua vida (Filipenses 4:12-13):
  • "Sei passar falta, e sei também ter abundância; em toda maneira e em todas as coisas estou experimentado, tanto em ter fartura, como em passar fome; tanto em ter abundância, como em padecer necessidade. Posso todas as coisas naquele que me fortalece."
Em Cristo,
Pr. Adriano Wink Fernandes

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O DIA DO SENHOR E O FERVOR DO ESPÍRITO SANTO

Tempos atrás a igreja evangélica tinha uma marca distintiva que era um dia dedicado como O Dia do Senhor. Mas isso se perdeu com o passar do tempo. Nesse tempo colocávamos a melhor roupa, a roupa de domingo; a família toda ia à igreja; o livro de capa preta, a Bíblia, não faltava. Estávamos no Dia do Senhor, e este dia era dever [senão uma obrigação] estar na igreja.

Claro que nesse tempo pretérito não tínhamos tantas atividades na igreja como temos hoje. Nós assembleianos tínhamos os departamentos do círculo de oração, de jovens e a Escola Bíblica Dominical. Eram esses. E hoje quantos temos? Além das reuniões semanais. Acredito que isso seja bastante preponderante, e tem pesado bastante no costume cristão com relação ao Dia do Senhor, um dia de santificação ao Senhor.

Outra questão importante é que hoje as opções de lazer são inumeráveis. E, infelizmente, os cristãos estão bastante absorvidos pelo excesso de lazer, de prazer, de satisfação pessoal. Isto é produto do Iluminismo, pois tem colocado o homem no centro de todas as coisas. Portanto, entendo que precisamos voltar a analisar todas as coisas à luz da Palavra de Deus. Fazendo isso chegaríamos a conclusão que o hedonismo não pertence ao padrão bíblico para a vida cristã.

Outro ponto que tem pesado bastante é o entendimento que a nossa geração tem a respeito de Deus. Essa falta tem levado a uma deliberada ignorância sobre o conhecimento de Deus, e isso é crítico na igreja hoje. Ian Hamilton escreve que

"O Dia do Senhor é um testemunho da grande benignidade de Deus para com Seu povo e nos dá um tempo divinamente apontado por Deus para que nós O adoremos e Deus mesmo nos dá o foco apropriado em relação à Sua adoração".

Podemos argumentar que estamos bastante envolvidos em cultos, reuniões para discutir a obra, atividades de departamentos, congressos, viagens, retiros, projetos diversos etc.; sete dias semanais tem sido pouco diante de tantos compromissos, e que isto é muito mais do que um dia específico para adoração. Estamos 100% para Deus. Mas todas estas atividades tem nos levado para mais perto de Deus, nos proporcionado comunhão mais íntima com Espírito Santo e com os irmãos [a koynonia bíblica], ou simplesmente estamos ocupando nosso tempo com atividades religiosas, impondo sobre nós um desenfreado ativismo? Entendo que devemos pensar mais biblicamente sobre isso.

Diante do exposto acima e mais algumas questões que podem ser ventiladas poderíamos voltar a pensar mais demoradamente sobre o Dia do Senhor. Temos uma divergência doutrinária com os sabatistas (Adventistas do Sétimo Dia) por causa da doutrina de Ellen Gould White (o espírito de profecia) relacionada ao sábado. Mas na verdade eles não guardam o sábado como defendem, uma análise bíblica, ainda que superficial, mostrará isso. O argumento adventista para guarda do sábado não resiste a uma análise doutrinária. A Bíblia é o fundamento. Mas independente disso a igreja evangélica brasileira precisa repensar algumas coisas que foram fundamentais no seu crescimento, firmeza, e consistência do modus vivendi tempos atrás. Compreendo que a igreja não era mais fervorosa, mais dinâmica, simplesmente porque levava muito a sério o Dia do Senhor, o domingo.

Vejo que é impossível voltar a ter o Dia do Senhor (o domingo) como tínhamos tempos atrás. Várias razões impedem de todos os crentes, no domingo, pararem com suas atividades e compromissos e se reunir para todos juntos estarem em adoração ao Senhor, como a igreja fazia tempos atrás.

Sei que estamos no mundo, e que o contexto social e cultural tem grande influência sobre todos, inclusive sobre a igreja e a sua dinâmica de ação. Mas a Palavra de Deus sempre tem a orientação, a exortação, a doutrina fundamental para a igreja. Hoje não estamos tão distante somente de santificarmos o Dia do Senhor, mas também do fervor do Espírito Santo. A igreja primitiva tinha na verdade um compromisso de vida de serviço.

No meu entendimento a igreja em Atos é a igreja modelo para qualquer época. E o historiador Lucas registra como era a igreja no seu nascedouro.

Atos 2: 46 E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria e singeleza de coração, 47 louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos.
Atos 5: 42 E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar, e de anunciar a Jesus, o Cristo.

Vemos que os irmãos aqui eram muito ‘igrejeiros’, estavam "todos os dias no templo", e como se isso não bastasse estavam "todos os dias, no templo e de casa em casa".

Paulo foi um Apóstolo profundamente preocupado com relação a vida da igreja. Ele diz "não cessei noite e dia de admoestar com lágrimas a cada um de vós", claro que Paulo não era um super apóstolo que não precisava dormir, mas que não importava a hora, de dia ou de noite, ele estava sempre disposto a instruir a igreja.

A atitude da igreja primitiva se espelha na atitude do próprio Cristo, pois disse

"A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e completar a sua obra." (João 4:34)

Em relação a trabalho, não estamos tão distantes dos relatos históricos acima. Estamos cheios de atividades, mas nos falta o fervor do Espírito Santo, e isso eles tinham em abundância. Nossos resultados estão medíocres, não porque não estamos fazendo alguma coisa, mas porque o muito que fazemos está mais em nossa dependência do que na total dependência do Espírito Santo. Paulo dependia totalmente do poder de Deus e da virtude do Espírito Santo, e isso fazia toda a diferença (Romanos 1:16-17; 1ª Coríntios 1:18; 2:1-5; 1ª Tessalonicenses 1:4-5 Cf. 1ª João 1:1-5).


Estamos como a maioria das igrejas da Ásia para as quais João escreveu. Por exemplo, a igreja de Éfeso estava cheia de obras, trabalho e perseverança, e a de Tiatira tinha as últimas obras mais numerosas que as primeiras. Isso mostra a intensa atividade destas igrejas. Hoje Temos riqueza, temos fama, mas toleramos uma série de coisas que a palavra de Deus desaprova, e somado a isso, não estamos com os ouvidos para ouvir o que o Espírito diz às igrejas. É isso é fundamental!


O que a igreja precisa hoje, diante de tantas atividades, compromissos e a desenfreada correria que esse tempo impõe, é buscar o necessário fervor do Espírito Santo para viver com Deus e para Deus num fiel compromisso de serviço.

Pr. Adriano Fernandes
Blumenau - SC